Nove escolas da Rede Municipal situadas na região do Salitre, distrito de Junco, em Juazeiro, juntaram-se na manhã desta sexta-feira (12) na comunidade de Goiabeira II. A iniciativa surgiu para chamar atenção da sociedade no sentido de valorizar a água como bem indispensável à vida, além de possibilitar aos educadores/as e estudantes uma maior aproximação com os movimentos sociais.
Com o tema “Um olhar reflexivo sobre a problemática da seca no Vale do Salitre e as práticas exitosas”, o encontro foi também a culminância de discussões feitas nas escolas. Com paródias, recital, encenações, as/os estudantes trouxeram os principais problemas vivenciados hoje nas comunidades e também apontaram soluções. Uma caminhada saiu do povoado de Goiabeira II em direção ao rio que encontra-se seco nas imediações da ponte. Faixas, falas, músicas e um abraço simbólico no rio marcaram este momento da intervenção.
Para uma das organizadoras do evento, a gestora escolar, Eurides Lima, este é um momento de conscientização, onde é importante para as/os estudantes refletir o que os pais e mães já passaram e que eles/elas também estão passando agora devido ao estado de degradação do Rio Salitre. No interior da Escola Antônio Francisco de Oliveira, diversos cartazes e fotografias registrando a história do rio e as lutas pela água na região, chamaram a atenção das/dos participantes.
Eliane Oliveira, estudante do 3º ano, avalia a atividade como algo importante e acredita: “se os jovens se mobilizarem, as autoridades vão dar importância ao nosso desespero”. A estudante considera a prática da irrigação um dos problemas centrais que provocam a seca do rio e como solução aponta a necessidade de um limite de áreas a serem irrigadas. “Acho que os donos das fazendas, das roças, os plantadores, deveriam limpar o rio e ter um acordo para cada fazendeiro plantar uma quantidade limitada. Tem uns que plantam demais, outros de menos e outros não podem nem plantar. Deveria delimitar”, argumentou a jovem.
Histórico
No início da década de 1980, os problemas devido as retiradas de água do rio para irrigação começaram a se agravar no Vale do Salitre. A água começou a faltar a poucos quilômetros da foz, gerando conflitos entre grandes e pequenos produtores, inclusive com mortes. Hoje o problema expandiu-se e a seca do rio já chega a poucos quilômetros de umas de suas nascentes, localizada no município vizinho de Campo Formoso.
O modelo de agricultura adotado ao longo desses anos tem custado a existência do rio e consequentemente a qualidade de vida da população que dele depende. Nadilson Lopes, educador que atua na comunidade há 17 anos, observa que sempre houve um uso descontrolado da água, principalmente através da irrigação que em sua maioria é feita por inundação. “É necessário que os agricultores comecem a praticar a agricultura de uma forma mais racional, os órgãos competentes precisam cobrar a outorga d’água, fiscalizar quando necessário”, opina o professor.
Diversas manifestações semelhantes tem sido realizadas pelas escolas, associações e demais organizações preocupadas com esta realidade. O evento contou com o apoio das Secretarias de Educação e Saúde de Juazeiro, União das Associações do Vale do Salitre (Uavs), Irpaa e Sindicato de Trabalhadores Rurais de Juazeiro.