A cidade de Juazeiro (BA) é palco do 13º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), um dos maiores encontros da área na América Latina, realizado entre os dias 15 e 18 de outubro de 2025. Com o lema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”, o evento acontece no campus Juazeiro da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e em espaços parceiros, reunindo milhares de participantes em atividades que fortalecem o diálogo entre saberes e territórios.
No primeiro dia de programação, as plenárias temáticas ganham destaque como espaços centrais de troca e reflexão. As discussões abordam temas sociais e ambientais fundamentais, como justiça climática, racismo ambiental e o papel das mulheres, dos povos indígenas, da juventude e das pessoas idosas na construção de uma agroecologia mais justa e sustentável.
Plenária das Mulheres: O Coletivo por Justiça e Transformação
Realizada no Auditório Central do Espaço Umbuzeiro Multieventos, a Plenária das Mulheres marca o início do congresso com força e simbolismo. O encontro é fruto da articulação entre o GT Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o GT Mulheres da ABA-Agroecologia e a Rede Feminismo e Agroecologia e reúne mulheres de diferentes regiões do país em um momento de escuta e mobilização coletiva.


A abertura é conduzida com uma mística que celebra a trajetória das mulheres na agroecologia. O ambiente se enche de cânticos e palavras de ordem que ecoam pelo auditório, transformando o espaço em um grande coro de união e resistência.
Durante a plenária, Yoná Pereira, representante dos povos de terreiro de Juazeiro, compartilha uma reflexão sobre o poder da coletividade:
“Somos individuais e nos construímos em coletivo”, afirma, ressaltando a importância da união na luta por justiça e igualdade.

Entre as pautas mais debatidas está a divisão justa do trabalho doméstico, tema que atravessa a vida de todas as participantes. A Campanha pela Divisão Justa do Trabalho Doméstico é apresentada como uma estratégia de conscientização e transformação, reforçando que o cuidado com o lar e com as pessoas deve ser uma responsabilidade compartilhada. A mensagem que encerra a plenária resume o espírito do encontro:
“Sem mulheres, não há agroecologia.”

Plenária Indígena: A Espiritualidade como Pilar da Defesa Territorial
A Plenária Indígena trouxe à luz a profunda e indissociável conexão entre os povos originários, a agroecologia e a espiritualidade. A fala de Elisa Pankakará emergiu como um poderoso manifesto de resistência e esperança:
“É preciso fortalecer os espaços coletivos da nossa aldeia. A nossa voz precisa ser ouvida. Nossas falas, nossas discussões, são para as nossas crianças, para o nosso futuro. As cidades do Nordeste e do Sertão foram construídas em cima do trabalho escravo e do sofrimento dos povos indígenas. Esse é o meu lugar de fala, o de quem conta, o de quem está no nosso chão, nas nossas aldeias.”


Essa plenária solidificou a compreensão de que a espiritualidade indígena é um pilar fundamental para qualquer discussão sobre agroecologia e mudanças climáticas, oferecendo uma perspectiva essencial para a convivência harmoniosa com a natureza e a proteção dos territórios ancestrais.
Plenária da Juventude: Ousadia, Inovação e o Futuro do Campo
A Plenária da Juventude traz o entusiasmo das novas gerações como motor da transformação agroecológica. Jovens agricultores e agricultoras compartilham experiências e desafios em seus territórios, ressaltando a importância da educação e da organização popular.


A jovem agricultora Camila Sobral, integrante do Barra Unas e do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, destaca o papel da juventude na construção de soluções para a crise climática:
“A agroecologia é o caminho. Estar aqui, nesse espaço onde todos discutem as mesmas pautas com diferentes perspectivas, é muito importante. A juventude está em todos os lugares e faz a diferença.”
O sentimento coletivo é traduzido no grito de guerra que encerra a plenária: “Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular.”
Plenária das pessoas idosas: a sabedoria ancestral na Convivência com o Semiárido

Entre as plenárias identitárias, destaca-se a autogestionária “Pessoas Idosas: Conhecimentos Tradicionais e Cósmicos da Agroecologia para a Convivência com os Territórios do Semiárido e do Árido, com Inclusão e Justiça Climática”, que valoriza os saberes ancestrais e promove o diálogo entre gerações e culturas. O encontro incentiva a participação ativa das pessoas idosas e o reconhecimento de seus conhecimentos como parte essencial da convivência com o Semiárido.
Em rodas de conversa, os participantes compartilham experiências sobre tradições, memórias e saberes vivos, desde o manejo da terra até os rituais de cuidado e observação da natureza. Entre os temas discutidos estão a evolução dos cuidados com a terra, as previsões climáticas tradicionais e os ensinamentos transmitidos entre gerações.
O momento é marcado também por rituais simbólicos, como benzimentos, cantigas tradicionais e a criação de uma mandala de ervas sagradas. A caminhada “Caminhando e catando e seguindo a canção…” foi realizada em celebração aos rios e à conexão entre cultura, natureza e espiritualidade.




A Sinfonia de Vozes pela Agroecologia
As plenárias do primeiro dia do 13º CBA revelam a pluralidade de vozes que sustentam o movimento agroecológico no Brasil. Mulheres, povos indígenas, juventudes e pessoas idosas se unem em torno de um mesmo propósito: promover a justiça climática e valorizar os territórios e seus saberes.

O congresso segue até o dia 18 de outubro, com uma programação que reafirma a agroecologia como caminho coletivo para a transformação social, o cuidado com a terra e a defesa da vida em todas as suas formas.
O Congresso está sendo organizado pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Serviço de Assessoria a Organizações Populares (Sasop), Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Universidade do Estado da Bahia (Uneb de Juazeiro), Movimento dos Pequenos e Pequenas Agricultoras (MPA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE). Conta também com a contribuição de representantes de diversas organizações, redes e articulações da sociedade civil, instituições de ensino, movimentos sociais populares, poder público e comunidades tradicionais.
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Texto: Cibelle Vieira | Estagiária-UNEB
Fotos: Vagner Gonçalves – Eixo Educação e Comunicação do Irpaa