Apoio para fortalecer a coletividade nas comunidades através de associações, formação de mulheres e de educação contextualizada; além da implementação de áreas de Recaatingamento, de tecnologias de saneamento rural com reúso de águas e ampliação das discussões voltadas à segurança alimentar e nutricional. Essas ações estão entre as atividades desenvolvidas pelo projeto “Agenda 2030 no Semiárido baiano”, executado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e o Movimento de Organização Comunitária (MOC), em dez municípios da Bahia.
A iniciativa conta com o apoio da Horizont3000 – organização não-governamental austríaca de cooperação para o desenvolvimento e financiamento da Comissão Europeia, Sei So Frei Graz, DKA e Agência Austríaca de Desenvolvimento (ADA).
Uma etapa importante da execução do projeto é a visita de acompanhamento, em campo, do andamento das atividades junto às comunidades assessoradas. Por esse motivo, neste sábado e domingo (16), a coordenadora de projetos da Horizont3000 no Brasil, Kristina Kroyer, visitou a Comunidade Tradicional Quilombola e de Fundo de Pasto Patos I, em Campo Formoso-BA; e a comunidade Tanque, em Sento Sé-BA.
Durante as visitas, as comunidades compartilharam detalhes das ações do projeto, resultados e desafios. Em Patos I, integrantes da Associação Comunitária local apresentaram a área de Recaatingamento, destacando a importância da iniciativa para potencializar o pertencimento da comunidade e a proteção do território frente às ameaças.
A área que está em processo de Recaatingamento tem 56 hectares e agora, entre outras atividades, está na fase de elaboração do plano de manejo. O agricultor e integrante do conselho fiscal da Associação, Francisco Rocha, popular Chicão, pontuou a importância da demarcação daquela área, principalmente para contribuir na defesa do território frente às ameaças de grandes empreendimentos, que vêm agindo nas imediações sem diálogo com a associação. Chicão enfatiza que o Recaatingamento fortalece a luta contra “invasor na comunidade; para nós, não tem projeto melhor do que esse”. Ainda sobre essa luta pelo território, o agricultor pontua o quanto é fundamental garantir as documentações para a comunidade. “A valência é que nós temos o título de terra registrado, tem o certificado de quilombo e tentando esse agora de Fundo de Pasto”.
A agente comunitária de saúde e tesoureira da associação, Lucinete Ribeiro, reforça que a demarcação da área e todas as demais atividades contribuem para a preservação e conservação da Caatinga na comunidade:
“Tinha pessoas que estavam cortando lenha, desmatando como se não tivesse dono. Então, com o Recaatingamento, as pessoas não vão mais tá degradando o meio ambiente”.
Também durante a visita em Patos I, na reunião com integrantes da Associação, foram destaques: a importância do projeto para a atualização da documentação da Entidade, o apoio na elaboração de um edital que garantiu o acesso a um recurso da Fundação Casa Socioambiental -que está sendo investido na estruturação de uma unidade de beneficiamento de frutas- e partilhas sobre as mudanças que aconteceram na comunidade.
“Incentivou muito a gente a estar empolgados na associação, envolvidos em tudo dentro da comunidade (…) Com o apoio do Irpaa, mudou muita coisa, mudou muito mesmo. O Recaatingamento no Fundo de Pasto foi um marco para nossa associação”, destaca Lucinete.
Uma curiosidade apontada pelas pessoas presentes na reunião em Patos I foi em relação a “o que motiva as entidades de fora do país a investirem em ações nas comunidades aqui no Brasil?”. Kristina Kroyer achou a pergunta muito interessante e respondeu explicando o quanto é fundamental esse trabalho de contribuir com os processos de decolonização, de reconhecer responsabilidades históricas com as desigualdades e assumir compromissos conjuntos em defesa do meio ambiente:
“Meu país (Áustria) não tinha colônias oficiais, ainda assim tinha pessoas que se beneficiaram das construções históricas do colonialismo. Então, para mim, isso (investimento em outros países) é uma demonstração de muitas pessoas e organizações que trabalham nessa área, esse reconhecimento da responsabilidade que temos, para não seguir reforçando essas relações de desigualdade, não só dentro de um país, mas entre países. E essa responsabilidade de seguir um caminho que valoriza os seres humanos, mas também o meio ambiente, de parar esse caminho de destruição”.
Na comunidade Tanque, em Sento Sé, foram apresentados os impactos positivos das ações, entre eles: o fortalecimento da participação das mulheres, que agora estão engajadas na Rede Mulher do município; a intensificação do trabalho com a contextualização do ensino e os resultados da implementação do sistema de tratamento de esgoto doméstico com reúso de águas.
Kristina avaliou positivamente essas visitas, principalmente pela oportunidade de conhecer as comunidades e poder visualizar os resultados do projeto:
“Achei muito importante poder acompanhar, faz dois anos que esse projeto está trabalhando com eles, com a associação comunitária e dá para ver como se fortaleceram nesse processo, como acessaram novos fundos, novos projetos que, de novo, vão continuar fortalecendo a comunidade. Isso que, no final, é um dos objetivos do projeto (…) Dá para ver que já tem muitos resultados que esse projeto gerou, muitos resultados bons; tanto esperados, tipo o fortalecimento da associação, mas também os não descritos de maneira explícita na proposta do projeto, por exemplo esse acesso a novos fundos através do fortalecimento”.
O coordenador do Projeto Agenda 2030 pelo Irpaa, Paulo César Santos, enfatiza que a visita é fundamental para o andamento das ações. “É diferente do que ela via antes só na parte escrita (relatórios, etc.). Isso foi muito positivo porque ajuda a compreender melhor a parte prática, os desafios”.
Paulo César finaliza acrescentando que esse conhecimento da realidade local estreita os diálogos e facilita a compreensão do que é apontado nos relatórios e reuniões virtuais, assim como os ajustes necessários que vão surgindo:
“Fica mais fácil, porque agora ela conhece o que está sendo feito em campo, a distância para as comunidades, tudo o que está sendo implantado nas famílias, como que as famílias se sentem com essa atuação do projeto nas comunidades. Então, tudo isso foi muito positivo para o bom andamento do projeto, uma boa administração, boa execução, para a gente chegar nos resultados esperados”.
Texto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa | Fotos: Eixo Educação e Comunicação / Eixo Clima e Água



























