Vila da Economia Solidária reafirma a força da agricultura familiar no Semiárido Show 2025

O percurso pela Vila da Economia Solidária começa pela memória, na  “Casa da Convivência”, um espaço decorado com elementos afetivos para a cultura popular nordestina, como Cortinas de retalhos, móveis em madeira, moringueiro com potes em cerâmica e o filtro e de barro; itens que remetem à água fresca, o colorido nos detalhes despertam identificação, lembrança e vivências que remetem às casas do campo e preparam os passos para um espaço de trocas.

Esse acolhimento abre caminho para a Vila da Economia Solidária, onde, mais de 50 estandes apresentam ao publico comunidades, histórias e frutos do cooperativismo da agricultura familiar no Semiárido Brasileiro. 

Ao redor da casa, os/as visitantes são convidados a conhecer materiais didáticos, maquetes de Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto com réplicas de tecnologias hídricas e sociais apropriadas as características climáticas Semiárido, como cisterna de consumo familiar, saneamento básico rural e reúso de águas, além de estratégias de recuperação de áreas degradadas e conservação da Caatinga em Pé.

Para a coordenadora administrativa do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), Nívia Rocha, a Casa de Convivência é símbolo do trabalho que a instituição desenvolve: “Sem água a gente não consegue produzir, não tem quintal, não tem beneficiamento. Então a Casa de Convivência traz esse processo de acesso a direitos, de consolidação da convivência com o Semiárido e da busca pelo bem viver. Beneficiamento e acesso a mercados são produtos que só se tornam possíveis quando temos inovação tecnológica, estruturação das unidades e formação. A Vila da Economia Solidária é parte dessa estratégia de mostrar que viver bem aqui é possível.”

Em seguida, o público se depara com a Feira da Economia Solidária que é o coração da Vila. O espaço reúne cooperativas, associações e empreendimentos de três estados nordestinos, Bahia, Pernambuco e Piauí, que transformam frutos da Caatinga, peixes, hortaliças e saberes tradicionais em alimentos, bebidas, artesanatos e cosméticos.

Segundo Nívia Rocha, a proposta é dar visibilidade à produção da agricultura familiar e fortalecer estratégias de mercado: “É um espaço estratégico que acolhe a diversidade. Temos cerveja de umbu, sorvetes e picolés de frutas da Caatinga, cooperativas de mulheres com restaurantes, pratos regionais como a umbuzada e o bode, além de artesanato e acessórios indígenas. Esse espaço é uma vitrine de inovação e mostra que, com tecnologias apropriadas, conseguimos comercializar alimentos e garantir renda mesmo em períodos de estiagem.”

A jovem Belkis de Fátima Andrade, 19 anos, estudante de Agropecuária na Escola Família Agrícola de Monte Santo, em Monte Santo (BA), ressaltou a força do licuri – amêndoa de uma palmeira característica da Caatinga – para a geração de renda de mulheres e jovens. E exibindo no estande estavam produtos como, óleo para corpo e cabelo, hidratantes para corpo, sabonete líquido, como cosméticos, e azeites.

“No início era uma coisa muito regional, mas com os incentivos passou a ser valorizado. São as mulheres e os jovens que coletam o licuri na Caatinga e levam para a agroindústria familiar. Ela enfatiza os produtos, é construído por gente, tem história.”. A jovem destacou  a importância das pesquisas desenvolvidas na escola: “O licuri não tinha estudo científico amplo. Agora, com apoio de professores e técnicos, desenvolvemos pesquisas tanto para alimentação humana e animal, quanto para cosméticos, destaca a jovem.”

Expositores de diferentes territórios trouxeram suas vivências. Maria Edinete Santos, de 66 anos, do Assentamento Vale da Conquista do Movimento Sem Terra (MST),  em Sobradinho (BA). Ela apresentou sabão artesanal, usando a gordura bovina e de caprino, sequilhos, doces e hortaliças produzidos no lote familiar: “É muito importante estar aqui. A gente mostra o que produz e também aprende, faz amigos e aumenta as vendas. O sequilho, o sabão artesanal e os doces são os mais procurados.”

Da comunidade de Lages, em Uauá (BA), à 25 km da sede do município, a Associação Comunitária e Agropastoril dos pequenos produtores de Lages das Aroeiras,  trouxe picolés artesanais de maracujá, licuri, goiaba, buriti, manga e coco. O associado José Rodrigues, 49 anos, explicou que a agroindústria nasceu do desejo de jovens da comunidade de transformar frutas em gelados: “Começamos em 2004, inspirados pelo trabalho do IRPAA e da Coopercuc. Hoje temos cerca de 50 associados e a produção de picolés garante renda para as famílias. Participar do Semiárido Show é uma forma de mostrar as potencialidades da nossa região.”

A vila também foi um espaço de aprendizado para diversas instituições de ensino. A professora Simone Ferreira, da Escola Inácia Rita, em Lagoa Grande (PE), levou estudantes do 4º ano para conhecer as tecnologias sociais: “Na sala a gente trabalha vegetação, pecuária e agricultura, mas aqui eles veem na prática. É um aprendizado para a vida inteira, que ajuda a compreender o cuidado com o Semiárido e novas práticas de cultivo e preservação.”

Entre os outros estudantes, estava presente Laís Carneiro, de 16 anos, aluna do 9º ano do Lar Santa Maria, da comunidade Rômulo Campos, em Itiúba (BA). Em sua primeira vez no Semiárido Show, ela destacou a importância da experiência: “Eu achei muito interessante, porque aqui apresenta muitas coisas novas que a gente não tinha oportunidade de ver lá na nossa cidade. Aprendi várias coisas com as explicações, achei muito lindo, tudo feito com muito carinho, principalmente os produtos, tudo muito legal.”

O fortalecimento feminino foi destacado por Neuraci de Jesus, vice-presidente da Cooperativa de Pescados de Sobradinho (COOPES): “Participar é muito importante para nós, mulheres. O espaço fortalece a cooperativa e contribui para nosso empoderamento. Só temos a agradecer ao IRPAA e a todos que fazem o Semiárido Show.”

A diversidade cultural também esteve presente com a participação de nove etnias indígenas da Bahia e Pernambuco. Artesã do povo Tuxi, Rita Maria da Conceição, de 57 anos, da cidade de  Abaré (BA),  ressaltou o papel da feira na preservação da memória ancestral: “Esse espaço é importante porque nos dá apoio para mostrar nossa cultura. O indígena precisa ser valorizado, para que nossas tradições não morram e cheguem aos nossos filhos e netos.”

Mais de 100 expositores e cerca de 50 empreendimentos participaram da Feira da Economia Solidária nesta edição. Para Nívia Rocha, o balanço é positivo: “O Semiárido Show supera expectativas a cada edição. Além da comercialização, o evento promove encontros, celebrações e a continuidade das vendas, porque muitos expositores saem daqui com encomendas já firmadas. Isso mostra a potência da nossa agricultura familiar e da convivência com o Semiárido”.

A Vila da Economia Solidária, do Semiárido Show 2025, contou com o apoio do Governo do Estado da Bahia, através do Programa Vem pra Feira, executado pela Superintendência de Agricultura Familiar (SUAF), da Secretaria de Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), da Bahia Turismo por meio da Secretaria de Turismo, além da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri).

Semiárido Show

O Semiárido Show é realizado pela Embrapa e conta com a parceria do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa). Os patrocinadores do evento são: Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf); Banco do Nordeste; Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene); Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); Banco do Brasil; e Governo do Estado da Bahia.

Matéria: Meiwa Magalhães | Agência Multiciências

Fotos: Vagner Gonçalves | Irpaa

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