As juventudes, principalmente as que vivem no contexto rural, enfrentam na atualidade uma série de desafios. Por exemplo, a ocupação de espaços de fala e de decisão; fazer valer os direitos; se organizar em coletivos e contribuir em processos de defesa dos territórios e dos biomas. Inclusive, foi com essa perspectiva de fazer um chamamento às juventudes para o engajamento na transformação de realidades e nas pautas de cuidado com o meio ambiente, que a 31ª Escola de Formação de Juventudes para Convivência com o Semiárido (EFJCSA), abordou o tema: “Vida e resistência no protagonismo frente às emergências climáticas”.
Ao longo de 14 dias, no período de 8 a 21 de julho, os/as participantes tiveram a oportunidade de discutir temas diversos da Convivência com o Semiárido e vivenciar atividades práticas no Centro de Formação Dom José Rodrigues, a roça do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), em Juazeiro-BA.
O roteiro formativo também contemplou visitas ao Parque Estadual de Canudos; à sede da Coopercuc, em Uauá-BA; à Barragem de Sobradinho e à Escola Família Agrícola (EFA) da mesma cidade. Contemplou ainda vivências na orla de Juazeiro e visita ao Armazém da Caatinga, espaço de comercialização da Agricultura Familiar, gerenciado pela Central de Cooperativas da Caatinga. O objetivo desses intercâmbios foi mostrar locais e experiências como exemplos práticos de muitas discussões trabalhadas ao longo da Escola, inclusive, para que os temas contribuam na construção de outras narrativas, positivas, sobre o Semiárido, a Caatinga, a resistência e a resiliência dos povos desse lugar.
No total, considerando egressos/as de EFA’s que vieram para participar da República de Estudantes do Irpaa, a EFJCSA contou com 40 participantes, oriundos dos estados da Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco.
A jovem Ana Beatriz Souza, de Campina Grande-PB, destacou que foi de “extrema importância” as visitas realizadas ao longo da Escola e que, por tudo o que viveu, ela sai:
“Cheia de conhecimentos novos, de esperança, de força, resistência e, com toda certeza, eu vou levar tudo que aprendi aqui para o meu território, a minha juventude; fortalecer isso e me aprofundar mais, estudar mais e fazer mais. Não só por mim, porque a gente é o presente; mas, passar para outros, para que lá na frente, a gente tenha jovens lideranças”
Ana Beatriz Souza
Representando a Comunidade Quilombola Terra da Lua, de Banzaê-BA, o jovem Micael Santos também reforçou a intensidade dos assuntos discutidos durante os 14 dias, sendo uma oportunidade para a partilha de novos conhecimentos. “Saio com a mente aberta, mais desenvolvido, crescido, mais maduro; a Escola fez isso com a gente”.
O tema da EFJCSA foi abordado de forma mais intensa durante o espaço formativo mediado por Roberto Malvezzi, popular Gogó. Parafraseando o saudoso Papa Francisco, Gogó reforçou para as juventudes que “as mudanças virão de baixo”. Nesse sentido, ele afirmou: “Quando vejo vocês aqui, como jovens, estudando isso (tema da emergência climática, cuidado com a vida), vocês vão ser protagonistas na medida em que vocês comungarem esses ideais, colocarem a vida nessa perspectiva. Quem coloca a vida nessa perspectiva da solidariedade, da fraternidade, do cuidado; nesse ambiente local que a gente vive, de semiárido; então aí é o paradigma da Convivência com o Semiárido. E o Irpaa sempre foi um dos pioneiros nessa Pedagogia, nessa educação, nessa filosofia de vida e de cuidado. Vocês têm tudo para ser protagonistas; agora, é também uma decisão pessoal, é dizer assim: ‘eu quero seguir esse caminho aqui’; se optar por esse caminho, não vai estar sozinho”.
O depoimento da jovem Rafaela Silva, de Retirolândia-BA, ilustra que a turma estava atenta às provocações para essa missão, enfatizada por Gogó: “Consegui compreender a importância do jovem ser protagonista do seu futuro e também levarei pra minha comunidade os temas discutidos, como emergência climática e a importância das tecnologias para a Convivência com o Semiárido”.
Diagnóstico da realidade das juventudes, outras perspectivas econômicas para os/as jovens, Gênero e diversidade, luta antirracista, 5 linhas de luta pela água, os solos do Semiárido, produção animal, caprinos e ovinos, saneamento rural com reúso de água, metodologia do Recaatingamento, histórico do Semiárido, Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto, impactos dos grandes empreendimentos, Educação Contextualizada, Comunicação para a Convivência com o Semiárido, Educomunicação, hidroestesia, beneficiamento e quintal produtivo são alguns dos diversos temas, e momentos práticos, abordados ao longo desse curso.
Durante a programação de encerramento, o coordenador institucional do Irpaa, Clérison Belém, pontuou que a Escola representa um legado, uma construção que a instituição vem priorizando. Além disso, as pessoas participantes, oriundas de diversas organizações, movimentos e coletivos precisam assumir o compromisso com a continuidade desse ciclo formativo, com a missão de multiplicar os saberes nos retornos às organizações, influenciando no trabalho desenvolvido em suas comunidades, instituições ou organizações de origem.
Nesse sentido, o presidente do Irpaa, José Moacir dos Santos, enfatizou, também no momento final da Escola, a importância das juventudes saberem:
“O chão que pisa, de onde veio e, independente da profissão, trabalhar tudo o que viu aqui, a Convivência com o Semiárido, Terra pra todo mundo, o direito à dignidade humana, o cuidado com o ambiente. É com essa ‘imagem’ que a gente envia vocês de volta, sabendo que agora, a gente tem mais 40 pessoas defendendo a Convivência com o Semiárido enquanto visão de mundo e enquanto política pública. Então, toda luta nossa é para que tudo isso que a gente defende aqui seja política pública adotada e financiada por um Estado forte, que cobra dos mais ricos e investe nos menos ricos, nos mais pobres”.
A partir do que as juventudes presentes assumiram no final da Escola, a expectativa é que, de fato, eles/as sejam agentes multiplicadores dos saberes e de transformação social, potencializadores das ações coletivas e da atuação dos diversos entes parceiros que os indicaram.
A 31ª EFJCSA foi realizada pelo Irpaa, apoiada por projetos da Instituição com a cooperação internacional. Esta edição também contou com o apoio do Projeto Baraúnas dos Sertões, uma iniciativa da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em parceria com a Rede Ater Nordeste de Agroecologia e a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste, com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Texto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa | Fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa e participantes da 31ª EFJCSA