Seminário Interestadual da Caprinovinocultura evidencia potencial do Território Sertão do São Francisco nesse setor produtivo

Com uma tradição marcada pela criação de cabras e ovelhas, o município de Casa Nova-BA se torna palco do Seminário Interestadual da Caprinovinocultura. Este Encontro, realizado nesta quinta-feira (12), abordou temas como o cenário da Caprinovinocultura, importância dos abatedouros, tradições culturais e produção animal, potencial do queijo artesanal e compras institucionais. 

Promovido pela Cooperativa Agropecuária Familiar Sertão Forte de Casa Nova e Região (COOAFS), o Seminário reuniu cerca de 300 participantes dentre agricultores, agricultoras familiares, especialistas e instituições públicas e privadas para debater os caminhos e os desafios da atividade que é símbolo da resistência e da economia do semiárido. 

Casa Nova possui o maior rebanho de caprinos do Brasil e figura entre os primeiros em número de ovinos. De acordo com o representante da COOAFS, Thiago Rocha, o Seminário teve como objetivo mostrar a capacidade produtiva da região, apresentar as oportunidades da cadeia da caprinovinocultura e conectar diferentes territórios em torno de um modelo sustentável de desenvolvimento rural. “Queremos fortalecer o sistema produtivo, valorizar a carne de bode e mostrar que nossa produção tem identidade, vem de áreas de Fundo de Pasto, um modo de criação único do semiárido baiano”, declara Rocha.

O coordenador do projeto ATER Bahia Sem Fome, no Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), André Luiz Pereira, complementou destacando o papel fundamental das comunidades tradicionais, que combinam saberes ancestrais com práticas sustentáveis. Segundo ele, o pasto nativo da caatinga, aliado ao uso de forragens adequadas, possibilita a criação dos animais sem causar degradação ambiental, assegura alimentação mesmo durante os períodos de estiagem.

Intercâmbio de Assessoria Técnica e Extensão Rural (ATER)

Diante da importância dessas temáticas, também abordadas nos projetos de ATER Bioma Caatinga e Bahia Sem Fome, foram realizados intercâmbios que contaram com a participação de 32 agricultores/as assessorados pelo Irpaa, no Território Sertão do São Francisco (TSSF).

Esses momentos “possibilitam que os/as agricultores/as tenham acesso a experiências práticas com outros criadores de caprinos e ovinos, com especialistas, com quem já tem alguns estudos sobre os benefícios da produção de caprino e seus derivados. Além de permitir que eles tenham acesso a cooperativas como a COOAF, que estimulam o cooperativismo, organiza a produção para que a comercialização possa se tornar mais organizada e acessar a mercados maiores, para além do município”, ressaltou o coordenador do ATER Bioma Caatinga, pelo Irpaa, Alessandro Santana.

Nesse sentido, André Luiz complementa que o momento também possibilitou às famílias assessoradas pelo ATER Bahia Sem Fome  o acesso a essas discussões.

“São famílias que ainda não fazem esse tipo de venda direto para frigoríficos, para o abate inspecionado dos animais.  “Foi possível conhecer esse mercado e também dialogar diretamente com possíveis compradores, além de estimular essas famílias a investir na produção de cabras e ovelhas para o abate”.

A jovem agricultora Maiane Nunes, da comunidade Sítio Bom Progresso, de Casa Nova, assessorada da ATER Bioma Caatinga, destaca os conhecimentos proporcionados pela participação no Seminário. “É um momento muito produtivo para nós agricultoras que não tem muito acesso a essas informações, agrega muito pra gente saber como produzir, o manejo, a higienização e como comercializar”.

Já a agricultora Patrícia Iracema da Silva, da comunidade Aroeira, em Remanso, assessorada da ATER Bahia Sem Fome, destacou os aprendizados e, principalmente, sobre o estímulo para iniciar a produção nessa atividade. “Hoje eu aprendi sobre queijo, sobre a comercialização da carne. Eu quero muito criar agora (cabra/ovelha) e com o aprendizado que eu tive aqui vou evoluir bastante”.

As falas dessas agricultoras reforçam e evidenciam a importância do trabalho da ATER, que é um dos elementos fundamentais para que a produção e a comercialização ocorram.

“É a assessoria quem está junto aos agricultores, comunidade, associações e cooperativas, organizando a produção e formando os grupos para acesso aos mercados institucionais, através da incidência nos editais, apresentando demandas aos gestores/as das escolas, ajudando aos grupos elaborar propostas”, explica o coordenador institucional do Irpaa, Clérison Belém.

Fortalecimento da Caprinovinocultura 

Esse ano, Casa Nova irá inaugurar um abatedouro, espaço no qual aconteceu o Seminário. A estrutura vai contribuir no fortalecimento da produção e comercialização da carne de caprinos e ovinos.

O espaço, que será administrado pela COOAF, está sendo preparado para abater cerca de 100 animais por dia. A médica veterinária e agente técnica da Cooperativa, Miquesia Passos, enfatiza por que o abatedouro é fundamental para legalizar o abate animal na região:

“De forma que a vigilância sanitária aprove, e para poder comercializar seus animais de uma forma segura, sanitariamente falando, e também que vai agregar valor ao seu produto. Então, o abatedouro vem com a finalidade de ligar a cadeia produtiva antes da porteira até o depois da porteira, para chegar no consumidor, fazendo com que o produtor tenha onde vender, onde abater os seus animais e comercializar de forma legal. O consumidor se apropria disso, se beneficia, porque vai receber um produto sanitariamente adequado, todo inspecionado”, afirmou Miquesia. 

O Seminário também possibilitou discussões acerca das políticas públicas, que podem estar associadas ao abate inspecionado de cabras e ovelhas, como PAA e PNAE, uma vez que a carne desses animais não faz parte da alimentação escolar do TSSF, que mais produz caprinos e ovinos no país. 

Durante a mesa “Compras Institucionais e PNATER”, a presidenta da Central da Caatinga, Gizele Maria de Oliveira, compartilhou os desafios e avanços da Entidade  na comercialização institucional.

“Já tivemos experiência com o PNAE municipal e estamos em processo de negociação com o PAA da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O objetivo é ampliar o fornecimento de proteínas – da caprinovinocultura, da piscicultura, da avicultura — para que estejam cada vez mais presentes nas compras institucionais. São produtos que todas as comunidades têm: bode, galinha, peixe. Precisamos fortalecer essa linha de comercialização das proteínas via PNAE”.

Clérison também frisou que o “debate das vendas institucionais é uma oportunidade que precisamos nos apropriar e ocupar esses espaços; é uma política pública que garante o direito do/a agricultor/a familiar vender para os órgãos públicos”.

O evento contou também com “Festival de Queijos” e “Feira de Saberes e Sabores”, espaços para comercialização de alimentos produzidos pela agricultura familiar da região, de valorização e fortalecimento da produção e economia local. 

A Central da Caatinga também esteve presente na Feira expondo o trabalho da casa de ração; além de produtos das cooperativas, associações e grupos filiados.  “A ideia é mostrar que essa unidade de beneficiamento está à disposição das cooperativas, bem como o próprio insumo, a ração, que pode chegar às filiadas, explica Gizeli.

O Seminário foi organizado pela COOAFS, com apoio do Irpaa; do Governo da Bahia, através da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) e do Programa Bahia Sem Fome; e do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). 

Texto: Comunicação Irpaa e Central da Caatinga 

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