Entre os dias 29 e 30 de março, o município de União dos Palmares, localizado na Zona da Mata de Alagoas, recebeu jovens baianos de diversos territórios para o 6º Módulo do Curso de Formação Continuada de Jovens Lideranças do Semiárido.
Nesta edição, o curso abordou o tema “Os Regimes e Sistemas Político-Econômicos e a Sociedade Brasileira”, discutindo conceitos como socialismo, capitalismo, democracia, ditadura, neoliberalismo e neofascismo. O objetivo foi aprofundar a compreensão sobre as dinâmicas políticas e econômicas que estruturam a sociedade brasileira, analisando suas influências na realidade social e econômica do país.




As atividades formativas ocorreram no Palácio Zumbi dos Palmares, sede do poder executivo, na área central da cidade, além do Parque Memorial Quilombo dos Palmares, um dos mais significativos sítios históricos da resistência negra no Brasil. Localizado na Serra da Barriga, esse espaço é reconhecido como Patrimônio Cultural do Mercosul e abriga a memória do maior e mais importante quilombo das Américas: o Quilombo dos Palmares.
Durante mais de um século, Palmares foi símbolo de luta e liberdade, abrigando milhares de africanos e afrodescendentes que resistiram à escravidão e construíram uma sociedade própria, baseada em valores de coletividade e autossustentabilidade. A visita ao parque proporcionou um profundo momento de intercâmbio e reflexão sobre essa história de resistência, reafirmando a importância da preservação e valorização da cultura afro-brasileira.

União dos Palmares e sua História de Resistência
O município de União dos Palmares surgiu no século XVIII, na região conhecida como Macacos, às margens do rio Mundaú. Sua história está profundamente ligada ao Quilombo dos Palmares, um dos maiores símbolos da resistência negra contra a escravidão no Brasil. Os primeiros registros da presença humana na Serra da Barriga datam do final do século XVI, quando negros escravizados, fugidos dos engenhos de açúcar de Alagoas e Pernambuco estabeleceram ali um dos maiores e mais organizados quilombos da história.
Zumbi dos Palmares, sua figura mais emblemática, liderou a resistência contra os ataques das forças coloniais, que durante décadas tentaram destruir a comunidade. O quilombo resistiu a vários ataques até ser destruído no final do século XVII pelas tropas portuguesas.

Para Débora Barros, natural de Sento-Sé, militante do Movimento Popular dos Atingidos por Barragem (MAM) e estudante do curso, a experiência foi marcante: “Esse momento pra mim foi um momento de aprendizado, onde eu consegui entender um pouco mais sobre a história dos Zumbis dos Palmares, um pouco sobre essa resistência que foi esse quilombo, e pude vivenciar algumas reapresentações, reconstruções de espaços que existiam aqui antes. Então foi um lugar de muita importância para o meu conhecimento e para a resistência”.
A estudante de pedagogia Elisania Pereira, residente na República do Irpaa e uma das jovens que vivenciam essa formação continuada desde o 1º módulo, também destacou a importância da experiência ao refletir sobre a história do povo negro: “a gente sempre soube, a gente sempre entende que os povos negros sempre sofreram, mas o que a gente vê na escola não é nada comparado ao que a gente vê aqui. A gente não sente de verdade a dor, a gente não consegue nem imaginar de como foi isso e essas pessoas sofreram e sofreram para que a gente pudesse estar aqui e para a gente não fazer isso em vão. Todos os que se foram, nada foi em vão e por isso estamos aqui hoje vendo essa história e relembrando, e sempre relembrar o passado pra a gente nunca se esquecer do que foi isso, pra não deixar acontecer novamente”.
William Andrade, jovem comunicador e integrante do Coletivo Raízes Culturalizadas Nordestinas — grupo que, por meio do audiovisual, busca contar outras narrativas sobre o Semiárido —, ressaltou como a visita ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares proporcionou não apenas um aprendizado histórico, mas também uma reflexão profunda sobre ancestralidade e resistência: “uma experiência única, não só no aspecto histórico, mas também no aspecto humano, porque aqui a gente vê que foi uma história onde aconteceram massacres de pessoas que idealizavam e defendiam um modo de vida. E, consequentemente, esse modo de vida que as pessoas vivenciavam aqui incomodou os poderosos da época, que oprimiam essa classe trabalhadora. Minha experiência aqui aborda a questão da ancestralidade, onde a gente percebe que, quando é parte da história, precisa conhecer um pouco do passado para entender o porquê de algumas coisas que estão acontecendo agora no presente”.
Para Natália Cardoso, estudante da Escola Família Agrícola de Sobradinho e jovem liderança na Comunidade Esfoemado, em Curaçá, a experiência foi enriquecedora não apenas pelo aprendizado histórico, mas também pela possibilidade de levar os ensinamentos da resistência para sua própria comunidade: “Eu tive uma experiência muito ótima, como também pude aprender várias coisas sobre meus povos do passado e posso levar esse conhecimento para minha comunidade. Aqui, percebi a importância de viver em união e compartilhar as histórias daqueles que resistiram, garantindo que hoje possamos estar aqui. Esse ambiente tem um significado muito especial para nós”.
Ao refletir sobre os momentos que mais a impactaram durante a visita, Natália destacou um espaço em particular: “O que mais me chamou atenção foi o lago que visitamos. Foi um momento de muita reflexão para nós, onde pudemos compartilhar nossas percepções. Além disso, tivemos a oportunidade de conhecer melhor cada ponto do parque com o auxílio de um guia muito especial, que nos ajudou a vivenciar e compreender essas histórias de forma mais profunda.”
Histórico do Curso de Formação
Desde sua criação, o Curso de Formação Continuada de Jovens Lideranças do Semiárido tem abordado temas essenciais para a compreensão da realidade social e política brasileira. Nos módulos anteriores, os participantes debateram assuntos como questões de raça, gênero e diversidade, além da importância da comunicação e educação na formação de consciência crítica.
Outros temas já discutidos incluem a soberania na mineração, organização social e a questão agrária, abordando resistências populares e disputas por territórios tradicionais. O módulo realizado em Canudos-BA, por exemplo, focou na relação entre terra, território e juventude.
Com essa trajetória, o curso busca fortalecer o protagonismo juvenil e formar lideranças capazes de atuar em suas comunidades, compreendendo as dinâmicas históricas e políticas que moldam o Brasil. O encontro em União dos Palmares reafirmou esse compromisso, promovendo reflexões e experiências fundamentais para o empoderamento da juventude do Semiárido.
Texto e Fotos: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa