O sol já começava a se despedir no horizonte, colorindo o céu de tons alaranjados, quando a comunidade Esfomeado, em Curaçá, vivia mais um momento histórico. Reunidos em torno da sombra acolhedora de uma faveleira, em frente à sede da Associação de Mulheres em Ação da Fazenda Esfomeado (Amafe), moradores/as e visitantes acompanharam atentamente o lançamento do livro ‘As Odetes: Protagonismo sociopolítico através do trabalho com a terra’, da escritora, professora e psicopedagoga Cristiane Ribeiro da Silva.
Lançado na tarde do último domingo (23), o livro narra a história e as memórias de Esfomeado, uma Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto que ao longo de seus mais de 200 anos teve as mulheres como protagonistas nos avanços sociais e políticos em defesa do território. Por esse motivo, o enredo tem como ponto de partida a história de Odete Ferreira da Silva, primeira mulher empreendedora social da comunidade e grande incentivava do associativismo e cooperativismo.
Dona Odete, como é conhecida, acreditava no poder do trabalho coletivo e na defesa da terra, sendo a primeira a perceber a importância da coletividade se afirmar como território tradicional de Fundo de Pasto. No entanto, segundo a autora, a memória histórica da coletividade é tecida por diversas mulheres que desempenharam papéis fundamentais na formação e fortalecimento da organização social da comunidade.
Gislene Silva, membro da Amafe, expressou sua satisfação em relação ao livro, destacando a importância de sua narrativa sobre a história da comunidade. "O livro abrange desde o início até os dias atuais e mostra a importância do poder público para comunidades pequenas, onde grandes sonhos podem ser realizados".
Em ‘As Odetes’, Cristiane Ribeiro da Silva escolheu dar voz e vez às mulheres do passado e do presente ao narrar a trajetória histórica de Esfomeado. “O principal objetivo deste trabalho é trazer em evidência para os espaços de fala, de voz e de vez a função social da mulher. O papel da mulher com visibilidade, e mostrar o quanto as mulheres de hoje trazem essa força, essa coragem daquelas nossas mulheres do passado”, explica a autora.
Além de exaltar a força feminina, a obra se desdobra em assuntos que retratam a essência da comunidade tradicional de Fundo de Pasto, com destaque para educação, religião, economia, formas de geração de renda e as saborosas receitas feitas com ingredientes típicos da caatinga. Tudo isso compondo um mosaico de histórias que refletem a riqueza cultural e a diversidade de Esfomeado ao longo dos anos.
"Um sonho que se sonha só não se torna realidade, mas aquele que se sonha com outras pessoas é realizado", afirmou Airton Gonçalves, que integrou a mesa de lançamento representando as Associações comunitárias da região. Para ele, o registro dessas memórias é fundamental para que as histórias das gerações passadas sejam conhecidas e valorizadas pelas futuras. "Antigamente, todo mundo ia para a casa do seu parente contar um pouco da sua lida e as histórias dos seus pais e avós. Com esse registro, filhos e netos vão conhecer um pouco do que nossas mães, avós, tias aprontaram para nos criar", complementou Airton.
“São mulheres lutadoras, resilientes e carregam consigo um forte sentimento de pertencimento ao território. Através delas, pude aprender muito sobre a história e a cultura da região. Cristiane, em especial, é uma verdadeira guardiã da ancestralidade e tem um conhecimento profundo sobre as histórias e tradições de Esfomeado", declarou entusiasmada a professora e pesquisadora da UNEB, Maryângela Ribeiro, que conheceu a comunidade através de uma pesquisa sobre os impactos socioambientais da mineração nas comunidades de fundo de pasto de Curaçá.
A mesa de lançamento contou com a presença de diversos/as convidados/as, incluindo Airton Gonçalves, representando as Associações locais; a pesquisadora e professora do curso de Direito da UNEB, Maryângela Ribeiro; Edmilson Alves, integrante da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Salvador Lopes, Ex-Prefeito de Curaçá; Júlio César, colaborador do Irpaa e Coordenador do Projeto de Assessoria Técnica (Ater); Romário Meira, representando o Centro Público da Economia Solidária (CESOL); e Domingas Félix, que foi a primeira professora de Cristiane Ribeiro.
Texto e foto: Eixo Educação e Comunicação do Irpaa