Hoje, 5 de novembro de 2021, faz 6 anos do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, a 75 km de Belo Horizonte, da mineradora Samarco – controlada pela Vale e BHP BILLITON. Os problemas causados a partir do crime, que tirou a vida de 20 pessoas e causou impactos profundos no meio ambiente da bacia do rio doce, são muitos: falta de emprego e renda, ausência de acesso a serviços de saúde, já que com a contaminação do rio a população começou a apresentar vários novos problemas de saúde, e poucas opções de lazer a partir da destruição do rio.
Depois da tragédia de Mariana, veio o desastre em Brumadinho que fez mais de 270 vítimas; E o que todas elas têm em comum? A forma errada como a extração mineral é feita no Brasil, onde o lucro acaba sendo a prioridade, desconsiderando um processo de desenvolvimento participativo e inclusivo, onde pessoas e natureza são valorizadas e respeitadas, como denúncia Tádzio Coelho, professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG) e coordenador do GT Mineração do Projeto Brasil Popular. “Distribuição das riquezas, atendimento das necessidades humanas, respeito à autonomia e ao modo de viver dos povos, eu acho que a partir disso dá para se pensar um projeto de desenvolvimento para o país”, afirma ele.
Tadzio reforça que mesmo durante a pandemia, o setor da mineração no Brasil, por incentivo do governo, que liberou a mineração como atividade essencial, obteve lucros extraordinários, atendendo interesses de grandes empresas internacionais, bem como da mineração ilegal. “A mineração é uma das bases políticas de sustentação do governo Bolsonaro […] vários setores passaram por crise econômica, diminuíram faturamento, postos de trabalho, mas a mineração não”, aponta o professor.
Os desastres ocorridos no Brasil por conta da mineração mostram que existe muitos problemas ambientais que precisam ser resolvidos, nesse sentido o Movimento pela Soberania Popular pela Mineração (MAM) vem organizando-se em todo o território nacional na perspectiva de apresentar um novo modelo mineral para o país, como afirma Pablo Montalvão. “A nossa pauta que está colocada é um processo de mobilização, organização e luta por popularização e democratização do debate da mineração”. Ele enfatiza que a luta do MAM não é realizada apenas pelas famílias e comunidades que foram atingidas diretamente, e sim por todas aquelas que indiretamente também sofreram com os impactos da exploração mineral.
De acordo com Pablo, mais de 70 % da mineração feita na Bahia está na região Semiárida, com grande inserção do capital internacional. “ O sertão, por ter uma quantidade grande de bens minerais, é a nova fronteira mineral. Diversos minérios, de terras raras, Algumas pesquisas já têm encontrado minerais de terras raras, que são minerais de importância, de um valor tecnológico muito grande”, reforçando que a descoberta de novas fontes de minério vão acentuar os riscos e os conflitos por terra na região.
Dentre as estratégias que vêm sendo implementadas na região para barrar à exploração mineral realizada pelas empresas, criou-se a Articulação de Enfrentamento ao Modelo Mineral Baiano, que tem como objetivo contribuir na organização social e na luta das comunidades, movimentos sociais, pastorais, paróquias, organizações populares. Como parte desse processo está em curso o II ciclo de formação: impactos e realidades do modelo mineral na Bahia, e que nos dias 10 e 11 de novembro, de forma virtual, farão um debate com o tema: Questão Hídrica e Mineração na Bahia.
Texto: Eixo Educação e Comunicação
Foto: Arquivo MAM