O confinamento e o trabalho/escritório em casa (home office) aumentaram as desigualdades de gênero na pandemia. A partir dessa afirmação, a formação continuada realizada pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) voltada aos seus colaboradores e colaboradoras abordou o tema “Relações de gênero em tempos de pandemia”, no último dia 17. A formação virtual contou com a participação de mais de 70 colaboradores e colaboradoras que atuam em diferentes estados do Semiárido acompanhados pelo Irpaa.
A discussão trouxe à tona que além da crise política, econômica, de saúde pública e de direitos sociais, o aumento das desigualdades de gênero também faz parte deste momento pandêmico. Uma vez que, com as ações para combater a disseminação da Covid-19, como o isolamento social, que acarretou o confinamento das pessoas e o trabalho/escritório em casa (home office), o desequilíbrio na divisão de tarefas, a violência e o assédio aumentaram, resultando em mulheres violentadas e cada vez mais sobrecarregadas e/ou silenciadas pelo conformismo de diversos tipos de relações.
As desigualdades nas relações de gênero são um problema histórico causado pelo patriarcado e machismo, que coloca a mulher em papel de submissão na sociedade. Situação que se agravou na pandemia, pois a convivência constante dentro das casas, além de sobrecarregar a mulher nas tarefas domésticas, aumentou o número de casos de violência contra a mulher. O Brasil registrou 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, 1,9% a mais que no mesmo período de 2019, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
A partir desse cenário, se tornou ainda mais importante dialogar sobre as relações de gênero, e o Irpaa que ao longo dos anos tem promovido formações acerca desse tema com seus colaboradores e colaboradoras e também com as comunidades acompanhadas pela instituição, traz o assunto voltado aos agravantes da pandemia. A colaboradora do Irpaa, Gizeli Maria Oliveira, fala sobre a relevância dessa discussão. “É importante não só para as relações pessoais, mas contribui também na relação profissional (…) melhora a relação com os colegas de trabalho e a atuação em campo com as comunidades rurais, nas assessorias às famílias, onde os assuntos abordados e as problemáticas encontradas nas comunidades vão além da produção e criação”.
Nesse sentido, a colaboradora do Irpaa que atua em Juazeiro, Lealda Maria, pontua que a formação sobre relações de gênero é fundamental, já que os técnicos e técnicas tem contato direto com as famílias do campo, com as mulheres que passaram ou passam por situações adversas e precisam lidar com essas diferentes situações. “As formações nos capacita e faz a gente refletir várias estratégias de como é que eu posso dialogar com as famílias que estão lá no campo no dia a dia, e tradicionalmente já tem uma cultura, uma forma de ver o mundo. Então, elas (as formações continuadas) devem acontecer sim, é um espaço também em que as mulheres se fortalecem muito”, destaca Lealda.
Assim, é possível perceber a importância de despertar essa temática para o empoderamento das mulheres, mas sem esquecer que educar os homens acerca das relações de gênero também é fundamental. Como reflete o colaborador do Irpaa que atua em Remanso, Alan Duque. “Às vezes, a gente pensa que não tem ações que seja machista, mas a gente vem de uma sociedade onde somos criados pra ser machista (…) então, a cada formação a gente consegue ter uma melhor postura, mudar atitudes e hábitos que temos construído”.
A fala de Alan mostra o quanto é importante discutir relação de gênero também com os homens, pois ao se conscientizarem sobre a importância da equidade de gênero, podem ser aliados nesta luta.
Texto: Eixo Educação e Comunicação
Foto: Reprodução Zoom