Em 1986, quando o município de Canudos tinha apenas um ano de emancipação política, não havia padres residentes e as comunidades eram assistidas pela Paróquia de Euclides da Cunha. A convite do então Bispo da Diocese de Paulo Afonso, D. Aloyzio José Leal Penna, as Irmãs Delires Maria Brun, Jacinta Bim e Verônica Ribeiro, da Congregação Filhas do Sagrado Coração de Jesus, chegaram à terra de Antônio Conselheiro.
No último dia 09, uma celebração marcou o envio destas religiosas, que, atendendo a encaminhamento da própria Igreja, não mais irão atuar no município. Além das experiências vivenciadas, a Congregação leva também uma filha de Canudos, a Irmã Floranice Santos de Andrade, que decidiu também ser Filha do Sagrado Coração de Jesus. Durante a missa de envio na Paróquia Santo Antônio de Canudos, alguns marcos dessa trajetória foram lembrados. Ao final, o público se confraternizou com as Irmãs, que reafirmaram o quanto foi significativa a passagem das mesmas pelo município.
A chegada das Irmãs, em janeiro de 1986, visava atender a campos pastorais carentes de evangelização, bem como contribuir na articulação e organização dos trabalhos missionários no município. As religiosas foram acolhidas por lideranças da sede de Canudos e das comunidades rurais e optaram por situações concretas de presença junto aos mais pobres, marginalizados, crianças, jovens, famílias.
Ao longo de 34 anos, realizaram uma ação missionária voltada para a realidade local. Elas priorizaram a formação de catequistas, animadores/as de comunidades/CEBs e grupo de jovens, organizaram grupos de rua e de saúde alternativa; marcaram presença nas escolas; articularam ações voltadas para a Convivência com o Semiárido, especialmente quanto à construção de cisternas para armazenar água de chuva; motivaram a organização de movimentos populares, tais como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, a Colônia de Pescadores/as e Associações Fundo de Pasto.
A Irmã Delires Maria avalia que o trabalho desenvolvido pela Congregação resultou em “uma situação de muita vida para esse povo”. Ela conta que havia “uma fome de Deus e uma sede de Deus, mas também uma fome real e uma sede real, por isso todo esse nosso envolvimento na construção de cisternas e de defesa de Fundo de Pasto e de apoio a essas organizações (…). Eu considero que esses foram aspectos significativos de nossa presença aqui”.
Conhecendo a história de Antônio Conselheiro e da Guerra de Canudos, as Irmãscontribuíram também para despertar a importância de resgatar a memória desse acontecimento, o que deu origem à Romaria de Canudos, realizada anualmente desde a década de 1980. As Irmãs participaram da fundação do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC) e da elaboração da lei municipal que inclui no programa escolar a obrigação de estudar a História da comunidade de Belo Monte e de Antônio Conselheiro. Em parceria com o Irpaa, colaboraram com a criação da Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá) e com muitas outras ações de Convivência com o Semiárido que transformaram a vida das famílias que vivem nas comunidades rurais.
O presidente do Irpaa, Haroldo Schistek, reconhece que a evangelização feita pelas Irmãs unia “a fé e a vida diária, na roça, na comunidade (…), conseguiram logo perceber a importância da Convivência com o Semiárido”. Ele também destaca a contribuição das mesmas na realização da Romaria de Canudos, um evento que, em sua avaliação, é “uma expressão da vontade popular de mudar a história”. A cada ano a Romaria elege um tema e sempre havia o empenho da congregação para levar o conteúdo da mesma até o povo.
Texto: Comunicação Irpaa, com informações da Paróquia de Canudos
Fotos: Vanderlei Leite (colaborador Irpaa)