Debater questões que envolvem raça e etnia, e que muitas vezes estão silenciadas nas comunidades, foi o ponto central de debate na oficina intitulada “A Dimensão Étnico-racial no Meio Rural”, realizada pelo projeto Pró-Semiárido na última sexta (30/08), na sede do Serviço Territorial de Apoio à Agricultura Familiar – SETAF, em Juazeiro. A formação, que reuniu técnicas/os de quatro entidades que prestam assessoria técnica a comunidades rurais do Território Sertão do São Francisco, é um trabalho de sensibilização, facilitado pelo Instituto Ceafro, uma organização sem fins lucrativos que debate questões ligadas à raça e etnia.
Para Koraly de Almeida, colaboradora do Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais – Sasop, a formação ajudou reconhecer a si mesma, a entender melhor as comunidades e assim saber escolher qual a melhor forma de contribuir com a população da área onde atua, no sentido de identificar comunidades tradicionais e ajudá-las no seu autorreconhecimento e valorização de suas raízes. Koraly conta que “a partir do momento em que nos reconhecemos, a gente tem condição de reconhecer [comunidades tradicionais] e ajudar a comunidade a se reconhecer”.
A opinião de Koraly é semelhante ao que expõe João Trabuco, um dos coordenadores da equipe técnica da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá – Coopercuc. Ele acredita que o aprendizado da oficina contribui para o trabalho no campo, pois “os povos tradicionais demandam a valorização das suas culturas, do seu modo de ser, de viver”. O colaborador da Coopercuc aponta ainda a necessidade de construir uma “educação antirracista”, onde se possa colocar em pauta debates que ainda hoje são suprimidos na sociedade brasileira.
Lícia Barbosa, uma das facilitadoras da atividade, vê como fundamental a formação de técnicas/os para trabalhar questões étnicos-raciais nas comunidades quilombolas, Fundo de Pasto e ribeirinhas. Para a facilitadora é preciso entender “como é que ele [o racismo] foi construído na sociedade brasileira, como ele é mantido, quais são os caminhos que a gente tem para enfrentar isso através das políticas públicas”.
A formação voltada para entender o contexto étnico-racial é algo novo na assessoria técnica no Estado da Bahia, conta Beth Siqueira, Assessora de Gênero, Raça, Etnia e Geração do Pró-Semiárido. Segundo ela, durante anos o trabalho de assistência técnica esteve focado apenas na questão agrícola, desprezando quesitos sociais fundamentais para a melhoria e aumento da produção. “Observamos ao longo dessa intervenção da assistência técnica que é necessário discutir”, explica Beth, se referindo a pautas como raça, etnia e gênero.
Ao tratar das questões raciais, com destaque para a população negra, a assessora do Pró-Semiárido enfatiza que “percebe que muitas dessas pessoas estão presentes, estão envolvidas nos espaços, mas elas não estão nos espaços de poder. Elas estão presentes, mas estão silenciosas”. Beth diz que é preciso que as/os técnicas/os “observem essas pessoas, vejam o que elas passam, a vulnerabilidade que elas estão na sociedade porque têm uma cor diferente”.
Durante o evento as equipes das entidades participantes contribuíram para um levantamento de comunidades onde pode haver a atuação direta do Iceafro e da Assessoria de Gênero, Raça, Etnia e Geração do Pró-Semiárido. Serão 34 comunidades da área de atuação do projeto que contarão com ações voltadas para a formação e fortalecimento da identidade em comunidades tradicionais.
Todas as atividades previstas fazem parte do Pró-Semiárido, um projeto da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR, órgão ligado a Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR. O projeto é fruto de um Acordo de Empréstimo entre o Governo da Bahia e o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola – Fida.
Texto e foto: Comunicação do Irpaa