Com preocupação com o meio ambiente e com a continuidade do modo de vida de comunidade tradicional de Fundo de Pasto, os/as moradores/as de Vereda da Onça, em Pilão Arcado-BA, finalizaram na última sexta-feira (14), o cercamento de uma área coletiva de aproximadamente 200 hectares do Fundo de Pasto .O intuito da comunidade é recuperar a Caatinga, a partir do Recaatigamento, possibilitando que os animais tenham seu hábitat natural, bem com geração de renda para as famílias a partir da criação de abelhas.
O Recaatingamento é um projeto de preservação ambiental que busca contribuir para intervir a desertificação do Bioma Caatinga através do uso sustentável de seus bens naturais. Durante seis anos, os/as moradores/ras da comunidade vem desenvolvendo o projeto na comunidade. O colaborador do Irpaa, Agostinho Pereira Lima Neto, que acompanhou todo o processo, descreve algumas atividades que foram realizadas junto às comunidade no decorrer do projeto. “O Trabalho se deu na mobilização das famílias, dos/as moradores/as daqui da comunidade e a gente ia fazendo um plano de trabalho, orientando, sempre fazendo reunião de planejamento, começamos a reanimar, porque as pessoas se encontravam desanimadas e a gente chegou aqui e durante esse ano de trabalho conseguimos fazer esse trabalho aqui”, pontuou Agostinho.
A cerca é produzida com arame liso e estacas de concreto. Motivo da escolha desse tipo de cerca se dá pela questão da durabilidade, o investimento é menor do que se fosse cerca de arame farpado e o fato de não precisar derrubar cerca de duas mil árvores da Caatinga para utilizar como estacas, bem como um baixo custo para manutenção. Agostinho conta que os moradores/as pensaram que o modelo de cerca (arame liso e estacas de concreto posicionadas a uma distância maior do que se fossem estacas de madeira) não seria eficaz, no entanto com o andamento do trabalho perceberam que a cerca tem uma grande potencialidade. “Os criadores em um primeiro momento não acreditavam muito por que era muito distante de uma estaca para outra, mas no momento em que a gente começou esticar o arame e ficou tudo firme, tudo nos padrões, muitos agricultores agora falam que se forem fazer uma roça vão fazer com esse tipo de cerca”, concluiu o colaborador do Irpaa.
Além do cercamento a comunidade construiu na área o barreiro trincheira. Essas ações foram realizadas com a recurso financeiro oriundo do Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais , que a experiência de Recaatingamento conquistou no início do ano. A premiação foi uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Embrapa e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).
Formação para Convivência com Semiárido
Para o presidente do Sindicato do Trabalhadores Rurais, João José de Carvalho, que participou de formações sobre a Convivência com o Semiárido nos anos 90, pontua que as formações foram importantes, pois auxiliou na construção de conhecimentos sobre a forma de lidar com a Caatinga. “Foram as primeiras experiências que a gente passou a conhecer sobre o manejo da criação, a partir daí aprendemos fazer feno e o manejo sanitário do rebanho […]. A gente aprendeu cuidar mais da água, com a construção de cisternas e a gente aprendeu a cuidar das aguadas a partir desse curso […]. Na roça a gente aprendeu para não queimar os restos da sobras do plantio, porque ajudava no adubo e desenvolvimento da planta”, contou o presidente do sindicato.
O secretário de Agricultura do município, Risomar Ferreira Barrense, que também participou dessas formações, afirma que o Recaatingamento desencadeiam ações que contribuem para o desenvolvimento da comunidade e pode servir como exemplo para povoados vizinhos. “Para o município isso é muito importante, pois outras ações podem se desenvolver a partir dessa experiência, mostrar à outras comunidades que é possível, isso melhora a vida delas também, melhorando a natureza, guardando para que possa conservar as mata que nós ainda temos”, relatou Risomar. Barrense ainda avaliou que, “para essa comunidade, ele [o Recatingamento] é muito importante porque vem ajudar a preservar e conservar as matas que nós ainda temos. Então isso vai ajudar a melhorar tanto para economia como a renda e produção de abelhas dentro dessa mata”, acrescentou.
A celebração que aconteceu no último sábado (15) foi encerrada com o fechamento simbólico da cercamento da área de Recaantigamento. Esse momento foi celebrado com muita alegria pela comunidade, parceiros e representantes do poder público local que estavam participando desse evento. O presidente da associação de moradores/as, Juvenal Onório de Carvalho avalia a iniciativa como boa e afirma que o sonho foi realizado, uma vez que, com a área preservada as gerações futuras terão uma melhor qualidade de vida. “A gente tinha um sonho de ver essa área cercada e ter uma área de reserva”, disse Juvenal.
Texto: Comunicação Irpaa/ Foto: Haroldo Schisteck