Encontro de formação no interior de Curaçá discute desigualdade de gênero e autonomia das mulheres

 A comunidade de Frade, no município de Curaçá (BA), sediou nesta última quinta-feira (16) uma formação sobre gênero com mulheres da comunidade e povoados circunvizinhos. A atividade faz parte do Projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural para Povos e Comunidades Tradicionais – Ater PCT, que é executado pelo Irpaa com recursos do Governo da Bahia, através da Secretaria de Desenvolvimento Rural.

A partir de diálogos, dinâmicas, vídeos e muita partilha de experiências do dia a dia, colaboradoras do Irpaa chamaram o grupo a refletir sobre o conceito de gênero, a desigualdade entre mulheres e homens e as consequências disso do ponto de vista individual e coletivo, seja no âmbito privado ou público.

Dados acerca da disparidade no mercado de trabalho, por exemplo, assim como a forma de educar as crianças baseadas nas construções sociais que demarcam diferenças desnecessárias entre meninos e meninas, chamaram atenção das participantes. Outro elemento bastante discutido foi a divisão sexual do trabalho, o que é vivenciado diariamente dentro das residências e ambientes de trabalho, seja no campo ou na cidade.

Para a participante Maria Sileide Dias Pereira, que é vice presidenta da Associação Agropastoril de Frade, esses momentos ajudam a enxergar detalhes da própria realidade, que muitas vezes passam despercebidos. “É mais um conhecimento que as pessoas tem, para que a gente possa ter conhecimento dos nossos direitos e possa também atuar com mais firmeza na sociedade”, considera Sileide. Ela diz que ainda há muito o que avançar, pois as mulheres ainda se deparam com dificuldades de organização e enfrentamento. “Eles [os homens] querem que as mulheres sejam submissas a eles e isso hoje a gente não pode mais aceitar”, pontua.

Autonomia

A importância de ocupar espaços de decisão na comunidade e na sociedade de modo geral, bem como pensar a geração de renda como um componente indispensável para autonomia das mulheres, também foram pontos bastante pautados na formação.

Uma das fundadoras da Associação local e funcionária da escola da comunidade, Teresa Souza Costa, ressalta que esse primeiro encontro só com a participação das mulheres vai estimular o grupo a continuar se reunindo. Ela alimenta a expectativa de que o grupo possa se dedicar a geração de renda a partir da produção de algo que já é posto em prática por algumas mulheres ou que venham a aprender.

Uma novidade que foi repassada ao grupo durante a formação foi a participação de representantes da comunidade na Rede Mulher do Sertão do São Francisco, o que foi validado durante Assembleia da Rede realizada este mês no município de Pilão Arcado. A Agente Comunitária de Saúde e membro da Associação, Viviane Paiva Costa de Souza, foi uma das que tomou a decisão de integrar a Rede representando o município de Curaçá, que inclusive vai sediar a próxima Assembleia da Rede Mulher em 2019. Acerca do envolvimento das mulheres nesses espaços, participando de formações como estas, Viviane diz que “isso vai incentivar elas a participar, a buscar seus direitos, seu lugar no mundo, que muitas nem reconhecem qual é seu direito, só acha que tem deveres, quando na verdade a gente tem direitos e eles precisam ser respeitados”.

Ao final da atividade, as mulheres afirmaram o desejo de dar continuidade aos encontros, apontando temas que avaliam como necessários debater, a exemplo da sexualidade e a violência contra a mulher.

Texto: Comunicação Irpaa
Fotos: Eixo Terra