“As raças exóticas significam dinheiro para alguns, resultados de pesquisas para outros e prejuízos para os criadores”, afirma especialista

“Muitas vezes, as raças exóticas significam dinheiro para alguns, resultados de pesquisas para outros e prejuízos para os criadores”, a afirmação é de Haroldo Schistek, agrônomo e pesquisador fundador do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, de Juazeiro-BA, durante a palestra magistral “Raças Nativas, mudanças climáticas e convivência com o Semiárido”.

A palestra aconteceu na abertura da Oficina Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica, que acontece de 14 a 16 de agosto em Campina Grande-PB. Realizam o evento Instituto Nacional do Semiárido – INSA e a Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba em parceria com a Rede Paraibana de Núcleos de Agroecologia. O objetivo é a troca dos saberes tradicional e científico para a construção de conhecimentos, indicação das demandas de pesquisas básicas e aplicadas, formação e difusão de tecnologias sobre a conservação e das raças nativas.

Em sua fala, Haroldo exaltou a capacidade de resistência de animais nativos a exemplo dos caprinos: “Nós temos aqui no Nordeste um patrimônio genético impressionante. Na nossa região se diz que não é o homem que cria as cabras, elas é que criam o homem”, brincou. E continuou “O homem se adaptou menos ao Semiárido que as cabras. Elas são as ‘semiaridenses’ que deram certo”.

O estudioso afirmou que a convivência com o ambiente não é um privilégio das populações do semiárido brasileiro e deu exemplos de populações que ao longo do tempo e ao redor do mundo vem desenvolvendo estratégias para viver bem em seus locais de origem, sob as condições mais adversas, a exemplo dos esquimós no Círculo Polar Ártico e dos tuaregues, no Norte da África.

Haroldo explicou que as raças exóticas demandam um grande número de insumos externos e que as rações são tratadas com substâncias químicas e, segundo ele, não existe uma quantidade tolerável de agrotóxicos, “as plantas criadas com adubos químicos tem comprovadamente um valor nutricional menor, e se você produz a comida dos seus animais na sua propriedade, você tem o controle do custo do seu produto. É bom lembrar que ao comprar do agronegócio, estamos financiando aqueles que querem nos derrubar”, afirmou.

Sobre as mudanças climáticas, o pesquisador afirmou que a ação humana tem sido a grande responsável por estas mudanças e que é possível que o modo de vida capitalista, de consumo exagerado, leve o planeta a transformações irreversíveis.

A Oficina Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica tem o apoio da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, Coordenadora Ecumênica de Serviço – Cese, Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e do Centro Vocacional Tecnológico de Agroecologia e Produção Orgânica: Agrobiodiversidade do Semiárido – CVT.

 Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica

Promovida pela Articulação do Semiárido Paraibano – ASA Paraíba e pelo Instituto Nacional do Semiárido, em parceria com a Rede Paraibana de Núcleos de Agroecologia, a Oficina de Raças Nativas na Agricultura Familiar Agroecológica promove um espaço privilegiado para os encontros entre o conhecimento acadêmico-científico e o conhecimento popular acumulado pelos agricultores guardiões e guardiãs de raças nativas.

A programação do evento de três dias (14 a 16 de agosto) privilegiou momentos de compartilhamento de experiências por parte de agricultores criadores mulheres, jovens, assessores técnicos, estudantes, professores e pesquisadores da área da criação animal em bases agroecológicas.

Texto e Foto: Asa Paraíba – Edição : Eixo Comunicação