De Tamboril, no Ceará, a Quixabeira, na Bahia. De Poço Redondo, em Sergipe, a Pedro II, no Piauí, Arapiraca, em Alagoas e em todo Semiárido brasileiro é possível encontrar experiências que conceituam na prática o que é educação contextualizada ao Semiárido. Uma mostra disto foi vista durante o XIV Seminário Intermunicipal de Educação para Convivência com o Semiárido brasileiro, evento realizado anualmente pelo Irpaa e que nesta edição reuniu cerca de 40 educadores/as de 14 municípios do Semiárido no Centro de Formação Dom José Rodrigues, no período de 18 a 20 deste mês.
Além de discutir as dificuldades e desafios da implementação da proposta de educação contextualizada nos municípios do Semiárido, os conceitos teóricos também foram problematizados ao longo do seminário. Da mesma forma, os diversos avanços foram pontuados nos debates e nos momentos de socialização de experiências. “Um aspecto é essa consolidação teórica (…). As universidades que fazem parte da Rede, as organizações que trabalham com formação de professores tem contribuído muito pra gente pensar o que é essa perspectiva da contextualização escolar, como que essa proposta se articula com o projeto de desenvolvimento para o Semiárido” cita de Ana Célia Menezes, membro da Rede de Educação do Semiárido brasileiro – Resab. Outro avanço é a construção de diretrizes para a educação contextualizada em alguns municípios, considera.
“Hoje em Tamboril, educação contextualizada é uma política pública”, afirma Gilson Araújo, membro da Secretaria Municipal de Educação do município cearense, ao apresentar a trajetória para chegar a esta conquista. Tamboril hoje possui uma lei municipal que garante adotar as diretrizes da educação contextualizada em toda rede municipal, fruto de uma luta articulada de educadores/as e organizações sociais apoiadas pela Resab.
Dificuldades
Apesar dos avanços, esta tem sido uma luta ainda sem grandes resultados em outros municípios do Semiárido. Muitas secretarias de educação se interessam pela proposta, porém não centram esforços e investimentos para garantir uma ação eficaz, sendo em muitos casos ações pontuais ou uma prática permanente de apenas uma ou duas escolas ou mesmo de cada educador/a.
Isso se deve, principalmente, a falta de compromisso dos poderes públicos com a oferta de uma educação de qualidade e preocupada com a formação dos/das sujeitos. “É como se eles não quisessem que de fato nós tivéssemos conhecimentos, porque a gente tendo esse conhecimento provavelmente nós seríamos mais guerreiros pela defesa do direito educacional, por uma educação contextualizada”, acredita Carlos Alberto Marques, educador do distrito de Poço de Fora, em Curaçá, na Bahia. Ana Célia Menezes completa: “nós temos uma proposta de educação contextualizada que vai mexer com muitas questões no município que desacomodam”, pois exige discutir, por exemplo, a valorização do magistério, as condições físicas da escola e outros elementos que exigem investimentos. Ou seja, há uma “falta de comprometimento e compreensão dos gestores de que a educação contextualizada é um princípio da educação brasileira, portanto um direito dos/das cidadãos/as e dever do Estado”, enfatiza a educadora.
A educação contextualizada consta na Lei de Diretrizes e Base da Educação – LDB, onde é previsto que a educação seja construída a partir da realidade dos/das educandos/as. Trata-se de uma concepção pedagógica que deve considerar o “chão onde pisa” e para isso exige uma mudança em diversos aspectos, a exemplo do currículo, formação docente, estruturas físicas, produção didática, gestão da água, valorização da cultura local, etc. Para isso, o Projeto Político Pedagógico é um elemento chave e deve ser construído com a participação não apenas da comunidade escolar, mas envolvendo as famílias dos/das educandos/as e a comunidade. “Nós temos discutido a educação contextualizada como um movimento político pedagógico”, provoca Ana Célia.
Texto e foto: Comunicação Irpaa