Na perspectiva de desenvolver diversas práticas de Convivência com o Semiárido, agricultores e agricultoras familiares estão trabalhando no resgate, na preservação e multiplicação de sementes, as quais já devem ser utilizadas na comunidade, portanto, adaptadas às condições edafo climáticas da região. Essas sementes são chamadas de crioulas e conhecidas também como semente da paixão. Geralmente são exóticas, porém apresentam características que se adaptam bem ao Semiárido, por isso trata-se de uma prática que possibilita o fortalecimento identitário das comunidades sertanejas.
As sementes crioulas são produzidas de forma agroecológica, o que contribui para a segurança alimentar da população. “O banco de semente torna as comunidades autônomas na produção das suas próprias sementes e principalmente livres dos agrotóxicos e das influências de grandes empresas que tentam segurar o pequeno agricultor familiar, comprando essas sementes geneticamente modificadas ou alteradas geneticamente, sendo elas sementes híbridas ou transgênicas”, afirma Ana Virgínia Terra Nova, agrônoma e colaboradora do Irpaa.
Ela ainda ressalta que a estocagem das sementes diminui a influência do agronegócio na produção, um dos “inimigos” do banco de sementes, pois ele torna os agricultores e agricultoras reféns das empresas que detém as tecnologias das sementes modificadas. “Eles (agricultores/as) vão ter que comprar mais sementes para plantar novamente, por que as sementes desses alimentos não reproduzem”, comentou.
O armazenamento das sementes contribui para garantir a biodiversidade das comunidades, para colaborar na subsistência da população, entre outras ações. É indispensável, portanto, que esta prática garanta a diversificação da reprodução de alimentos, não se restringindo apenas a leguminosas, mas na produção de sementes forrageiras, frutíferas, etc. De acordo com Ana Virgínia, sementes não são apenas as sementes vegetais, mas também animais.
Curso sobre banco de semente
Há alguns anos na comunidade de Lagoinhas, interior de Casa Nova (BA), existia um banco de sementes, que com o passar do tempo foi desativado, porém a comunidade reconhece a necessidade de resgatar essa ação. O agricultor Jonas da Rocha comenta que “o banco vai ajudar a comunidade a se desenvolver… livrando da mão do atravessador (pessoa que vende as sementes)… e garantindo semente de qualidade”.
No intuito de contribuir na reativação do banco de sementes aconteceu nos dias 18 e 19 o curso de banco de sementes, ministrado por colaboradores/as do Irpaa. Nesse espaço os/as agricultores/as puderam trocar conhecimento, obter informações do que é um banco de semente, como organizar, gerenciar e garantir a qualidade das sementes estocadas. O banco pode ser tanto um local para armazenar garrafas devidamente identificadas com o nome das sementes guardadas, quanto pode ser uma área no próprio roçado.
Para o agricultor Raimundo Pacheco, outro momento importante do curso é o espaço destinado para o planejamento organizacional do banco, onde é discutido e pontuado algumas regras para o seu funcionamento, como selecionar e armazenar as sementes e outros aspectos para o bom funcionamento do banco.
O curso de banco de sementes é uma das atividades do Programa Uma terra e Duas Águas (P1+2), executado pelo Irpaa.
Texto e Foto: Comunicação Irpaa