Necessidade da construção de uma política Nacional de Convivência com o Semiárido é reafirmada em Seminário Nacional

 Pensar a convivência a partir de um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável na região semiárida, considerando condições climáticas foi uma das abordagens do Seminário Nacional de Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido. O debate foi conduzido pela Professora Drª Luzineide Dourado de Carvalho da Universidade do Estado da Bahia (Uneb/DCH III), Jerônimo Rodrigues, Assessor especial do MDA, Cleuza Silva, da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA/Cáritas Nordeste III), sendo moderado por Ademilson da Rocha (Tiziu), Coordenador Geral do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa).

A Profª Luzineide apontou reflexões de como tem sido pensado tanto o campo da natureza como do território no Semiárido, onde a natureza tem sido colocada como externa ao homem, passiva de controle e combate. “Quanto a gente parte dessa ideia de natureza no Semiárido é para desconstruir a ideia de natureza hostil. E essa hostilidade adentrou no material didático, adentrou nas políticas públicas, porque a gente vai vendo na ocupação econômica do Semiárido essa ideia de combater e controlar essa natureza hostil”, apontou a acadêmica que declarou ainda que este pensamento externo vem determinando as políticas e os projetos de desenvolvimento não apropriados para a região.

Jerônimo Rodrigues, apresentou, entre outras questões, as percepções do Governo no período de longa estiagem no Semiárido em três situações, no momento em que ainda não existia o conceito de Semiárido, onde se teve ações emergenciais, e no segundo momento com soluções hídricas viabilizando a construção de grandes obras e projetos sem dialogar com a comunidade, ações e concepções na lógica do “combate à seca”. E uma terceira perspectiva, ainda tímida, é a visão da Conivência com o Semiárido com foco em ações preventivas localizadas e adaptadas ao clima e solo, reconhecendo que ainda existe e prevalece a concepção de que é preciso combater a seca e insistência na utilização do próprio termo. De todo caso, em âmbito de governo, constatou-se que é preciso avançar no que tange a concepção que se tem da região semiárida para, a partir disso, reformular e estruturar políticas públicas para a região, considerando as proposições da sociedade civil.

A Asa trouxe uma síntese de qual é a sua concepção de desenvolvimento para o Semiárido Brasileiro a partir de sua caminhada ao longo destes anos de articulação. Cleuza Silva, da coordenação Executiva, explica que o ponto de partida é “anunciar para as populações e aos governos que o Semiárido é uma região viável e, apesar de estar marcadas de contradições, é possível olhar para o Semiárido como um lugar repleto de possibilidades que tem uma agricultura familiar e camponesa forte, que resiste e aprende a conviver com o clima”. Entre os desafios, ela cita o de olhar a situação das cidades do Semiárido e não somente o rural, apontado a necessidade da elaboração de uma Política Nacional de Convivência. “A gente não ignora o desafio que é viver nas cidades do Semiárido, que tem problemáticas específicas das grandes cidades e que precisam ser resolvidas. Muitas vezes as populações urbanas do Semiárido não se reconhecem como da região”, esclarece.

A necessidade mais do que evidente apontada

 por todos/as os/as convidados/os foi da discussão e construção de uma Política Nacional de Convivência com o Semiárido, onde sejam garantidos vários elementos, como democratização da terra e água, educação contextualizada, pesquisa e inovação tecnológicas, conservação dos recursos naturais, economia popular solidária, soberania alimentar e nutricional, produção agroecológica, relações de gênero, democratização da comunicação, entre outros elementos.

O segundo painel do evento aconteceu na tarde do dia 04, após oficinas temáticas e troca de experiências de diversas regiões do Semiárido. A mesa teve como tema Educação no Contexto do Semiárido: desafios e possibilidades, contando com convidados acadêmicos. O Seminário encerra na manhã desta quinta-feira com apresentação dos encaminhamentos e leitura da carta do Seminário.

 Texto e fotos: Comunicação Irpaa