Terra, Água e Clima foram os temas centrais da formação realizada para a nova equipe de colaboradores/as do Irpaa, realizada de 02 a 05 de junho deste ano, no Centro de Formação Dom José Rodrigues. Engenheiros/as agrônomos, administradores/as, técnicos/as em agropecuária, zootecnia e meio ambiente, zootecnista, assistentes socais, jornalista constituíam o público desta formação.
O Coordenador Administrativo do Irpaa, Haroldo Schistek, explicou que todo profissional que ingressa na equipe passa por esta formação para ampliar a sua dimensão de conhecimento sobre a Convivência com o Semiárido, bem como conhecer os princípios de atuação do Irpaa. Para isto, ao longo de 23 anos de vida do Instituto, as formações são prioridades e realizadas dentro da proposta de Educação contextualizada à região.
“Uma dificuldade do pessoal que chega das universidades é adotar esse novo ritmo de trabalho, onde não prevalece a tecnologia, mas onde prevalece a preocupação com as pessoas, as comunidades, as tradições, a cultura e com o meio ambiente. Por que a Caatinga mostra que é viável, se não fosse viável a vida aqui, não teríamos uma Caatinga, teríamos um deserto. É rica em animais, em plantas, etc. A caatinga não sofre com a seca, ela sabe viver com essa chuva que temos. Então, nós temos que aprender isso também. E no curso nós queremos transmitir isso”, argumenta Haroldo.
Schistek esclareceu ainda que a Convivência tem vários aspectos, entre eles a educação contextualizada, a questão do gênero, a questão da água, a produção, seja de animais, seja da roça, da juventude. “Mas essa visão apropriada para o Semiárido que preserva e que dá garantia de vida às pessoas mesmo com a seca isso não se ensina em nenhuma escola”, conclui.
Os conteúdos
Os temas trabalhados nesta primeira formação foram mediados pelos integrantes dos Eixos Terra e Água. O Eixo Terra problematizou a questão agrária no país, a regularização fundiária, trazendo todo o histórico de concentração da terra no Brasil e no Semiárido brasileiro. Na oportunidade, também foi trabalhado o que está envolto da existência, resistência e lutas das comunidades tradicionais pelo direito à terra e vida digna em seus territórios, a exemplo da comunidade de Fundo de Pasto de Areia Grande – BA, que enfrenta conflitos, violências e ameaças de grileiros, de empresas e, recentemente, do parque eólico. Buscou-se também inteirar as/os participantes sobre a legislação vigente acerca da demarcação destas terras e como vem se dando este processo de avanço e retrocessos na Bahia.
Já o Eixo Água colocou à disposição das/dos participantes a água e o clima no Semiárido. Um dos destaques foi a necessidade de ter disponíveis para as populações rurais tecnologias apropriadas à região para captarem e armazenarem a água da chuva, bem como a água subterrânea, tanto para serem utilizadas na produção, dessedentação animal como para consumo humano. Na ocasião foram feitos estudos coletivos e socializadas informações sobre a distribuição da chuva no Nordeste, a quantidade de chuva que cai no Semiárido em cada ano, a água no subsolo de rocha cristalina, calcário e arenito, outras regiões do mundo com um clima como o do sertão brasileiro e como estas populações vêm convivendo com o Semiárido, entre outras.
“Conhecer para crer”
As/os participantes também puderam ver de perto algumas destas tecnologias existentes na área de demonstração do Irpaa, as origens de cada uma, como são feitas e a partir de quais materiais, além do cuidado com a cisterna e a água armazenada. Outra atividade foi a montagem de um filtro de barro para águas não tratadas por sistemas de abastecimento, uma das alternativas de tratamento da água da cisterna destinada para o consumo humano.
A metodologia utilizada abarcou a perspectiva da integração das/dos participantes para a interação e troca de conhecimentos acerca da Convivência. Para isto, recursos como o áudio visual, leitura de textos e utilização de produções da própria instituição, músicas, trabalhos de campos e atividades práticas, todos em grupos, contribuíram para a percepção da turma acerca dos elementos que compõem a proposta de Convivência com o Semiárido trabalhada pelo Irpaa.
A nova equipe também teve a oportunidade saber como funciona a dinâmica de trabalho de equipe da Instituição, como se dão as ações integradas e coletivas entre os eixos, a preocupação em respeitar e acolher a sabedoria popular na construção de conhecimento, entre outros aprendizados.
Para Elisângela Cristina Lemos, que está a pouco mais de três meses na instituição, esta formação foi necessária para complementar a sua formação profissional e pessoal, já que no ensino formal não teve a oportunidade de estudar sobre a própria região onde vive: “você sai daqui com uma cabeça aberta, você sai daqui com outros pensamentos”, afirma.
Já para Antônio Ivo, recreador do Projeto ATER Federal, do município de Sobradinho, o que mais chamou atenção dos conteúdos trabalhados durante estes dias de estudo foi se questionar sobre conhecimentos oficiais e em saber qual a real história sobre a invasão (colonização), ensinada nas escolas formais como “Descobrimento”, há mais de 500 anos atrás. “O quanto é interessante observar que toda a história que você tem durante a tua formação mentirosa, de certa forma, e quando você recebe uma informação que é real e verdadeira você cria um impacto e assim várias interrogações na sua cabeça. Uma delas é qual o interesse de esconder a verdadeira história do suposto descobrimento do Brasil?”, questiona.