II Encontro de Estudos das Culturas dos Sertões debate “sertão contemporâneo e desconstrução de esteriótipos”

Sertão contemporâneo e desconstrução de esteriótipos foram os temas discutidos no dia 10 de maio deste ano, durante II Encontro de Estudos das Culturas dos Sertões, que aconteceu no Centro de Cultura João Gilberto, Juazeiro – BA. Foram convidados para discutir a temática, Durval Muniz de Albuquerque Junior (autor do livro a Invenção do Nordeste e outras artes), José Moacir dos Santos (pedagogo e representante da ASA/Irpaa), Elder Maia (autor de diversas obras sobre a sociologia do homem sertanejo) e Vânia Vasconcelos (pesquisadora sobre gênero e sexualidade).

Ao longo de quase três horas de debates diversos, entre eles as potencialidades da produção cultural local na movimentação da economia local e nacional e as suas problematizações, a proposta de Convivência com o Semiárido defendida pela ASA, a problematização do enunciado sertão contemporâneo e a construção de uma imagem positiva do Semiárido, foram destaques nas abordagens feitas pelos componentes da mesa-redonda.

O representante da Articulação do Semiárido Brasileiro, José Moacir dos Santos, trouxe à tona provocações acerca de tudo que foi dito a cultura do Semiárido, como à questão agrária e as desigualdades sociais no Semiárido construídas e consolidadas por um projeto político de sociedade mantido pela chamada indústria da seca. Em contraponto às imagens caricatas impostas por essa indústria,  elencou uma outra proposta viável para a região, a Convivência com o Semiárido, o que a sustenta e alguns dos elementos que a constitui.  Apontando também a deficiência de produções científicas e estudos sobre o bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga. Moacir citou ainda a importância de defender uma produção cultural local que desconstrua os atuais esteriótipos sobre o Semiárido, ajudando a construir uma imagem positiva da região.

Ainda de acordo com Moacir esta discussão contribui para que a proposta de Convivência com o Semiárido seja debatida também junto a academia científica, “esse é o primeiro ponto de divulgar que existem outras formas de pensar o Semiárido. E a outra é da gente ocupar espaço no meio acadêmico e dividir a mesa com a academia e fazer parte de desmistificar essa ideia de que é só academia que constrói conhecimento. E valorizar aquilo que a gente traz das comunidades”, conclui.

Durval Muniz de Alburqueque fez uma análise do enunciado sertões contemporâneos:  “tentei mostrar que as imagens clássicas que se tem do sertão, coloca o sertão como área sempre distante no espaço, distante no tempo. E que consequências isso tem? A consequência da própria invisibilidade de quem mora no sertão. Enunciar os sertões contemporâneos é trazer, tornar visível essa existência desse sertanejo na sua multiplicidade, nas suas diferenças, inclusive nessa sua face contemporânea”, defendeu.

Outro tema debatido foi o mercado de identidades esteriotipadas, onde os valores simbólicos de bens que circulam numa cadeia de consumo são movidos e apropriados por grupos comerciais baseados na economia denominada de criativa. “A identidade sertaneja é um grande negócio. Parte das pessoas consomem a partir das formações dos esteriótipos”, declara o Professor Doutor, Elder Maia.  Diz ainda que um do desafios para as populações sertanejas é quebrar a lógica de mercado fundada na apropriação da matéria-prima, criatividade dos povos e na concentração desta renda nas mãos da grande indústria. “Como promover trabalho e renda sem concentração, como ocorre hoje?”, foi umas das questões lançadas por Elder.

Mesa-redonda: Sertões e identidades

No mesmo dia, a partir das 14h, aconteceu o segundo dia de apresentações de trabalhos e pesquisas de temática do sertão, com destaque para a discussão sobre Sertão e Identidade. Um dos trabalhos apresentados foi o da Jornalista Érica Daiane da Costa e do Pedagogo Ademilson da Rocha (Tiziu), o documentário “TV pra quê? A influência da televisão no cotidiano das pessoas no meio rural”, resultado final da especialização do Ensino à Comunicação pela UNEB.

O Encontro de Estudos das Culturas dos Sertões aconteceu de 03 a 11 de maio deste ano, em Salvador e Juazeiro. O evento foi uma realização da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA).