Hidroestesia: uma contribuição à Convivência com o Semiárido

Os/as sertanejos e sertanejas vivem hoje uma época de inovações tecnológicas para conviver em equilíbrio com os períodos prolongados de estiagem. Entre as novas tecnologias, uma prática antiga e não convencional vem sendo utilizada, a hidroestesia. Para fortalecer a difusão desta prática com seriedade, o Irpaa ofereceu entre os dias 20 e 22 de novembro o encontro de buscadores/as de água para iniciantes, no Centro de Formação Vargem da Cruz.

Estavam presentes no encontro seis participantes das regiões de Canudos, Curaçá, Sento Sé e Livramento de Nossa Senhora, na Bahia, e Crateús (CE). Durante os dias de capacitação, foram discutidos temas como o subsolo existente no Semiárido, o que é a hidroestesia, quais as ferramentas usadas para a prática da hidroestesia, a cavação e construção de poços, entre outros assuntos ligados à técnica para localizar água no subsolo.

A hidroestesia pode ser compreendida como uma prática que utiliza da sensibilidade de algumas pessoas para encontrar fendas de água no subsolo. Além de identificar o recurso hídrico, a/o hidroestesista descobre a quantidade e profundidade onde a água vai ser encontrada, marcando o terreno para cavação da cacimba ou poço.

As/os participantes da capacitação utilizam de duas varas de metal, que funciona como uma antena de rádio. Caminhando por um terreno onde o solo contém água, as varas se cruzam ou se abrem, dependendo da sensibilidade de cada hidroestesista, as varas respondem como um sensor, sendo essa ferramenta produzida por cada buscador ou buscadora de água.

Um dom para trabalhar em prol da coletividade

Na última quinta-feira (22), as/os paticipantes tiveram um momento de experiência na marcação de cacimba, realizado na Serra da Boa Vista, em Massaroca, município de Juazeiro. Nessa ida a campo, cada pessoa teve a oportunidade de identificar uma fenda de água e tirar suas dúvidas.

Segundo o participante Arivaldo Pinheiro, o encontro é um momento de muita riqueza em conhecimentos téoricos e em troca de experiências. Ele enfatiza que “os buscadores de água tem que está sempre em busca do apreendizado e ter a consciência de que eles não são pessoas diferentes de ninguém, é preciso saber utilizar desse dom para o bem e preservá-lo”.

Lindinalva Oliveira comenta que na sua região, no Ceará, não existe muitos buscadores/as de água e que acontece perfurações de poços e cacimbas de forma aleatoria, sem ter a certeza de que vai ser encontrada a água, mas que a partir dos conhecimentos adquiridos no encontro ela pretende auxiliar nessas perfurações e tentar identificar novos/as hidroestesistas. Ela ainda relata a importância de transmitir para as famílias informações sobre o gerenciamento da água e conscientização do uso coletivo e comunitário das cacimbas e poços.

Todos/as os/as participantes demonstram que desejam usar os seus conhecimentos para auxiliar as famílias sertanejas a manter-se em suas terras e aproveitar as riquezas oferecidas pelo Semiárido brasileiro.