Manoel Júnior dos Santos, 27 anos, é agente ambiental do projeto remunerado e trabalha como mobilizador, além de cuidar do viveiro. "Até o momento, a gente tem conseguido concluir todas as etapas, desde a capacitação, construção de cisterna, viveiro, plantação. Daqui para a frente é só esperar os bons resultados", conta, destacando que "viver no Semiárido é muito gratificante".
Com 23 anos, Manoel também migrou para a cidade. Trabalhou primeiro como vigilante e depois como encarregado numa fazenda de romã irrigada. "Aí triplicou o trabalho, com várias responsabilidades e burocracias. Domingo era o dia de folga, mas tinha que anotar o que fazer na segunda-feira. Só aguentei um ano e meio. É lógico que aqui tem horário de trabalho, mas trabalhando na cidade, não sobra tempo e não tem esse ar livre", relata.
O Projeto Recaatingamento é executado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) nos municípios de Sento Sé, Sobradinho, Juazeiro, Casa Nova, Curaçá, Uauá e Canudos, e conta com patrocínio da Petrobras. A pretensão é promover, junto com os moradores das comunidades contempladas, o reflorestamento de determinadas áreas de Caatinga degradadas ou em processo de degradação.
Para isso, as famílias acompanhadas pelos agentes ambientais locais produzem, em viveiros, mudas de espécies da Caatinga. Desde o início de 2011, com o período das chuvas, em mutirão, os moradores das comunidades iniciaram o plantio. As mudas são plantadas em áreas coletivas escolhidas e isoladas. Esse processo permite que a vegetação seja recaatingada naturalmente, por meio da ação dos pássaros, do vento e da chuva, que se encarregam de espalhar as sementes.
Essa e outras ações do Irpaa envolvem as comunidades na recuperação e uso sustentável da vegetação nativa, ao incentivar práticas como o recaatingamento, beneficiamento de frutas, cooperativismo e associativismo, educação contextualizada, agroecologia, captação de água de chuva, entre outras formas de convivência com o Semiárido para aproveitar com responsabilidade o potencial.
Agrônomo responsável pelo projeto e ambientalista, o austríaco Markus Breuss conta que, na comunidade de Fartura, são três mil mudas plantadas em 130 hectares que foram isolados por cinco anos do pastoreio, com material e assistência técnica fornecidos pelo Irpaa. No total (sete comunidades) são 600 hectares isolados, somando 21 mil mudas plantadas. São quatro quilômetros de cerca elétrica, outra inovação que, além de manter os animais afastados, é mais ecológica e econômica, por gastar menos madeira. "O choque não mata, só assusta. É educativo", garante o agrônomo.
"A gente quer mostrar que a Caatinga vale mais em pé que no chão. Uma Caatinga bem conservada significa rebanho gordo, saudável, melhor renda para o produtor. Também uma Caatinga com espécies medicinais e frutíferas, como umbu e maracujá-do-mato, gera renda para essas comunidades tradicionais", destaca.
Texto e Foto: Diário do Nordeste