“A Agricultura Familiar vai ser a solução desse país”. É com essas palavras que seu Martinho Romualdo da Silva, integrante da comunidade de Gangorra, Salitre, destaca a importância da temática, comemorada nacionalmente no dia 18 de junho. Em Juazeiro, o evento ocorreu no SESI, Serviço Social da Indústria, reunindo caravanas dos distritos e comunidades da região. Na oportunidade, algumas ações sociais foram realizadas como a confecção de documentos pessoais, títulos de terra, campanha de vacinação, servindo para troca de experiências entre os produtores e representantes de entidades ligadas à agricultura familiar.
Em busca da melhoria da qualidade de vida das populações do Território Sertão do São Francisco, agricultores e agricultoras familiares, integrantes da sociedade civil organizada, universidades, representantes governamentais, movimento sindical, federações e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) estiveram presentes no evento, resultado das ações do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) em parceria com o Banco do Nordeste. Nos depoimentos, as opiniões convergiam para a função social deste ramo de atividades voltadas para a Convivência das famílias rurais.
O coordenador geral do IRPAA, Ademilson da Rocha, conhecido por Tiziu, fez parte da mesa de discussões representando o Núcleo Diretivo do Território. Na sua apresentação, ele citou a importância da agricultura familiar, destacando os desafios ainda existentes, como a necessidade de adequação do crédito para a realidade do Semiárido, fortalecimento da educação contextualizada, beneficiamento de produtos como fonte de renda para as famílias, ampliação e concretização de políticas públicas voltadas para essa realidade, contra o modelo industrial predominante. A forma de organização para comercializar os produtos beneficiados também foi citada por Tiziu como essencial para sustentabilidade das famílias
com base na soberania alimentar.
Informação e prática da cidadania foram concretizados durante o dia de comemoração, mas também de reflexão acerca do atual modelo da agricultura familiar. Do assistencialismo ao destaque na economia e sustentabilidade da nação, os depoimentos convergiram para o fortalecimento das famílias rurais na conjuntura político-econômica do país, já que esta é responsável por mais de 70% da produção alimentar do Brasil.
Para Valdete Pereira, presidente do Comitê das Associações de Massaroca, o crédito sem a assessoria técnica não tem resultado, ponto de destaque também nas palavras do coordenador do IRPAA como um dos desafios a serem superados pela agricultura familiar da região.
Segundo seu Flávio da Silva, integrante da comunidade de Fundo de Pasto Curral Novo Jacaré, localizada no distrito de Massaroca, o diferencial da agricultura familiar é seu contexto com base na coletividade. Para o agricultor, “onde o trabalho é coletivo tudo tem mais sucesso”. Seu Flávio, que já participou de cursos realizados pelo IRPAA, destacou a importância de projetos voltados para Convivência com o Semiárido, como o beneficiamento de frutas e a construção de viveiros para preservação da caatinga.
Membros de comunidades quilombolas, como a Fazenda Nova Jatobá, localizada na cidade de Curaçá – BA, marcaram presença através da venda de produtos com base, especialmente, na cultura do aipim: bolos e biscoitos refletiram a essência dos sabores regionais. O Quilombá, Sabor & Tradição, serviu para reforçar a importância do trabalho coletivo entre homens e mulheres, opinião apresentada por Dª Maria Lúcia, integrante da fazenda, que hoje também está na luta pelo reconhecimento como quilombola.
O deputado federal, Zezéu Ribeiro, coordenador da bancada Nordeste no Congresso Nacional, ressaltou os resultados positivos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), vinculando 30% da agricultura familiar para merenda escolar: “o produtor está ganhando para produzir alimento para a escola do próprio filho”, afirma. De acordo com o deputado, a agricultura familiar envolve principalmente a cultura de seu povo, potencializando a melhoria da qualidade de vida das famílias. Em seu depoimento, ele ressalta a necessidade de interiorizar a produção, acreditando que “ a solução para o Nordeste está no Semiárido, com um grande potencial produtivo e riqueza ambiental”.