A maior parte da região semi-árida possui um subsolo cristalino. Mas a natureza encontrou seu caminho para povoar este espaço com uma sociedade de plantas e animais, perfeitamente adaptada. A antiga riqueza de animais silvestres, como seriema, veados, onças, rebanho de centenas de emas, hoje em dia sumiu por causa da caça predatória. Mas são testemunhas que a Caatinga pode alimentar seus habitantes. As plantas desenvolveram seu próprio mecanismo, para sobreviver bem estiagens anuais, mas também os períodos maiores. Para cada mês do ano, a Caatinga preparou seu cardápio para os seu animais habitantes.
No início do período de chuva, oferece folhas tenras de arbustos e árvores e frutas de plantas com floração precoce. Mais tarde ela acrescenta como alimento diversos capins e folhas maduras de plantas perenes. Depois do fim das chuvas, os animais se deliciam com as folhas, que caiem aos poucos, murchas, mas com alto teor alimentício. Mas também de frutas e de sementes que as vagens das leguminosas, espalham, com estalo, no chão da Caatinga. Mas não pára por aí, ainda são apreciadas as sementes de capins secos e as folhas de árvores sempre verdes.

Muitas das plantas naturais, com suas frutas e sementes, oferecem um potencial muito maior para o aproveitamento pelo homem, do que as fruteiras exóticas, oriundas de climas úmidos e irrigadas pelo Nordeste afora, com irrigação cara e destrutiva para o meio ambiente.

 

II. COMO A NATUREZA SE ARRANJA COMO CLIMA?

Depois destas informações sobre o Semi-árido Brasileiro, podemos conhecer em seguida algumas estratégias de sobrevivência da natureza.

 

O pé de Juá, uma bomba potente.

Para se proteger contra a evaporação excessiva, arbustos e árvores deixam cair suas folhas no final da es-tação chuvosa. Tem alguma semelhança ao outono do clima temperado. As folhas mudam de cor, caiem, umas devagar, outras mais rápidas, as copas ficam cada vez mais ralas, mas uma coisa é certa, no meio do ano, a Caatinga está despida. A vista alcança a profundidade do mato, nenhuma folha impede o olho penetrar - ou melhor, quase nenhuma folha. Uma caminhada através da Caatinga, quente e seca, sempre invoca incredulidade: muitas vezes, com freqüência inesperada, luminesce no meio da vegetação cinzenta, dos galhos secos, uma mancha verde (Quadro 8). Por motivos aparentemente inexplicáveis, alguns arbustos e árvores mantém durante o ano todo suas folhas verdes. O pé de Juá4 é um do mais bonitos exemplos. Esta árvore, com sua copa larga, oferecendo uma sombra agradável aos viajantes, mantém não somente suas folhas durante todos os meses da estiagem, mas ainda consegue outra estripulia: quando a seca anual tende ao seu auge, nos meses de agosto a setembro, ela muda suas folhas. Então em outubro, a copa se enfeita de folhas verdes claras, viçosas e macias. Mas não pára por aí, logo cuida da nova geração. Começa florescer, para que as frutas estejam maduras, logo na primeira chuva em novembro ou dezembro. As frutinhas, com cerca de um centímetro de diâmetro, possuem uma casca áspera, mas mole. O caroço, relativamente grande, é envolvido por uma polpa fina, muito doce, apreciada pelas pessoas e animais.

 

 

   
 

4Muitas das plantas ainda preservam seus nomes indígenas originais. O terminal "zeiro" significa árvore. Assim Juazeiro é a árvore como as frutas Juá, e Umbuzeiro, é carregado de frutas Umbu.


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