Uma
outra causa se encontra muitas vezes na falta de terra própria e de terra insuficiente.
Para que uma família possa viver com segurança, também em anos de chuvas escassa,
ela precisa no Semi-árido, até 100 ha de terra, pois a produtividade por unidade
de área é baixa.
No caso de uma propriedade pequena demais ou quando não existe segurança na
terra, quando o governo impede a legalização da terra efetivamente ocupada,
ou então quando se trata de gente sem terra, que vive e trabalha em terras de
terceiros, aí a motivação para estabelecer uma propriedade resistente às variações
climáticas é baixa.
No outro lado se observa também, já a aquisição de conhecimentos sobre os procedimentos
de como ter água segura todos os anos e suas tecnologias, suscita o interesse
da população de lutar pela segurança na terra.
Um projeto de abastecimento seguro com água é de importância prioritária para a população da região Semi-árida. Nunca na história desta região existiu um projeto global, que incluisse todos os habitantes e suas atividades e garantisse segurança de água também em anos de precipitação irregular.
Analisemos a tabela da página 12. Seguem alguns esclarecimentos quais os elementos precisam ser observados num projeto de abastecimento com água.
Água para a família
O
abastecimento para a família, i.e. água para beber, para cozinhar, lavar louça,
dar banho ao nenê, deve ser assegurado em base individual7 Assim como cada casa
possui seu telhado e suas portas, deve ter também
seu próprio abastecimento com água. A cisterna da água da chuva é uma das melhores
tecnologias, pois a água estará disponível exatamente no locar do seu uso; evitando
assim longos caminhos para buscar água.
Como qualquer outro sistema de abastecimento com água, também a cisterna exige
certas medidas de manutenção, para manter sua eficiência e a qualidade de água.
Estes trabalhos simples, facilmente pode ser executados pela família.
Um programa de construção de cisternas deve ser estruturado de tal maneira que num período relativamente curto, praticamente todas as casas possam construir seu reservatório de água. Caso os meios financeiros estejam limitados, é recomendável concentrá-los num espaço geográfico limitado, do que construir cisternas isoladas num raio amplo. Se num povoado só existir uma ou poucas cisternas, os moradores das outras casas se abastecerão destas, quando os recursos naturais de água se esgotarem. Com as cisternas rapidamente esvaziadas, pode ser posta em dúvida a credibilidade e eficiência da captação da água da chuva e levar a falas conclusões como já tivemos oportunidade de ouvir: "já depois de dois meses, na cisterna não sobrou nenhuma gota d´agua".
Água da comunidade
Aqui
se trata de recursos hídricos que normalmente existem no interior e serviram
até recentemente à comunidade do povoado para o abastecimento inteiro. Se trata
de baixadas naturais, nas quais se acumula água do escorrimento superficial,
grandes caxios ou cacimbas. Estes recursos acumulam volumes insuficientes d'água,
precisam ser melhor organizados e seus diversos usos precisam ser fisicamente
separados.
Também é indispensável que os usuários se reúnem, pelo menos uma vez por ano,
para, aprofundar a aguada, retirar lama e outros sedimentos etc. Precisam fincar
cercas para que a água não seja contaminada por fezes de animais e precisa construir
bebedouros em alguma distância da aguada.
Água de emergência
Ainda estamos longe que cada povoado e cada pequena propriedade tenha seu sistema de abastecimento que garanta também em anos de estiagem extrema o líquido precioso. Por isso, poços profundos, com localização centralizada entre vários povoados ou barragens profundas e largas, ainda representam uma necessidade estratégica, para abastecer com água a população e os rebanhos também nestes anos, nos quais o início da próxima estação chuvosa está atrasado alguns meses.
Quanto mais se analisa a situação da água, quanto mais dados se possui sobre as reais necessidades e quanto mais se amplia as possibilidades de captação de água de chuva e quanto mais se otimizem as soluções tecnológicas, tanto menos famílias e povoados serão dependentes da chamada "água da emergência".
7 Grandes cisternas comunitárias p.ex. não devem ser recomendadas por causa de diversas dificuldades, mas também limites técnicos: a organização da sua manutenção representa sempre um problema para o grupo dos usuários; ao contrário da cisterna caseira, que já encontra uma superfície de captação de água pronta, o telhado da casa, esta tem que ser ainda criada quando se trata de cisternas grandes e causa custos adicionais. Aqui também surge de novo a questão do carrego da água, o que pesa especialmente nas mulheres e filhas da casa.