Com o amanhecer do dia, a professora Reijane Ferreira sobe em sua mota para percorrer 12 km de estrada de chão até chegar à Escola Municipal São José, no Sítio Palmeira, interior de Casa Nova. Enquanto isso, a merendeira Maria Aparecida Reis Braga já limpou a sala de aula, a biblioteca, a cantina, os banheiros, o pátio da escola. Na verdade uma única sala para tudo isso, pois essa estrutura física da escola só existe no sonho das crianças e das colaboradoras da escola.
A realidade é bem distante desse sonho, a Escola Municipal São José funciona em casa alugada na comunidade e sem nenhuma estrutura para fornecer um ambiente propício para o aprendizado de seus estudantes. Com péssima iluminação e circulação de ar, crianças de diversas séries dividem a única sala que existe na escola. “É um grande desafio dar aula em sala multisseriada, é muito difícil atender as diversas dificuldades das crianças”, pontua a professora Reijane. Mas esse não é o único desafio da educadora, a ausência de livros adaptados à realidade dos/das estudantes também dificulta a prática pedagógica.
Nesse cenário, há também o relato da angústia de Maria Aparecida, que não tem um espaço próprio para produzir a merenda escolar: “aqui não é nada fácil trabalhar, a gente incomoda os outros, que eu faço a merenda na casa dos outros, na casa de dona Santinha… seria melhor se tivesse uma cantina, seria bem melhor, até pros meninos que já merendava na escola, não precisava se deslocar”, diz a merendeira. Todo dia na hora da merenda, Maria Aparecida vem buscar as crianças na escola para levar até a casa de Santinha, “eles correm até risco, porque a estrada é muito movimentada”, complementou Maria Aparecida.
No meio dessa precariedade de política educacional voltada para o campo, encontram-se crianças comunicativas, criativas e com olhar crítico para a realidade vivenciada na Escola São José. Ao serem questionadas como elas poderiam fazer para tentar mudar a realidade de escolas, as crianças foram firmes em responder: “escrever uma carta e entregar ao prefeito”. Nessa carta, a estudante Ana Carolina, de apenas oito anos ia revindicar uma biblioteca para escola. “Meu sonho é que nossa escola tivesse uma biblioteca … minha professora sempre diz que vai levar nós em uma biblioteca lá em Casa Nova… aquelas estantes cheia de livros, diz que lá tem que ficar caladinha, lendo baixinho”, comenta a estudante.
Essa é a realidade de muitas escolas rurais do Semiárido. Apesar da educação do campo ser um direito, poucas políticas púbicas foram elaboradas e executadas para garantir esse direito fundamental nas comunidades rurais, que é ter acesso a uma educação que valorize o saber, a cultura e o modo de vida do homem e da mulher do campo.
Texto e foto: Comunicação Irpaa